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domingo, 23 de fevereiro de 2014

FAÇA SUA ESCOLHA AGORA




FAÇA A SUA ESCOLHA AGORA


ENQUANTO HÁ TEMPO




Origem do Bem e do Mal

1. Sendo Deus o princípio de todas as coisas, e sendo
tal princípio todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo que dele
provém deve participar de seus atributos, pois que aquilo que é
infinitamente sábio, justo e bom, não pode produzir nada que seja
desrazoável, mau e injusto. Portanto, o mal que observamos não pode ter
sua origem nele.

2. Se o mal fosse atribuição de um ente especial,
chamado Ahriman ou Satanás, de duas coisas uma ou tal entidade seria
igual a Deus, e por conseguinte tão poderosa quanto ele e teria existido
por toda a eternidade como ele, ou lhe seria inferior.

No primeiro caso, haveria duas potências rivais,
lutando sem cessar, cada uma procurando desfazer o que a outra houvesse
feito, contrariando-se mutuamente. Esta hipótese é inconciliável com a
unidade de visão que se revela na disposição do universo.

No segundo caso, sendo esta entidade inferior a Deus,
ser-lhe-ia subordinada; não podendo ter existido, como ele, por toda a
eternidade; sem ser seu igual, teria tido um começo; se ele foi criado,
não o pode ter sido, senão por Deus; Deus teria assim criado o Espírito
do mal, o que seria a negação da infinita bondade. (Vide `O Céu e o
Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo', Cap. X, `Os
Demônios'.)


3. Entretanto, o mal existe e tem uma causa.

Os males de toda espécie, físicos ou morais, que
afligem a humanidade, apresentam duas categorias que é necessário
distinguir: tais são os males que o homem pode evitar, e os que são
independentes de sua vontade. Entre estes últimos, colocam-se os
flagelos naturais.

O homem, cujas faculdades são limitadas, não pode
penetrar nem abarcar o conjunto das finalidades do Criador; julga as
coisas do ponto de vista de sua personalidade, dos interesses de grupos e
das convenções que para si criaram, as quais não existem na ordem da
Natureza; é por isso que ele freqüentemente encontra coisas más e
injustas, as quais consideraria justas e admiráveis, se percebesse suas
causas, sua finalidade e o resultado final. Procurando a razão de ser e a
utilidade de cada coisa, reconhecerá que tudo traz o sinal da sabedoria
infinita e ele se inclinará diante de tal sabedoria, mesmo em relação
às coisas que não compreende.

4. O homem recebeu como partilha uma inteligência com
cujo auxílio pode anular, ou pelo menos em grande parte atenuar, os
efeitos de todos os flagelos naturais; quanto mais saber adquire e mais
avança em civilização, menos são desastrosos tais flagelos; com uma
organização social sabiamente previdente poderá mesmo neutralizar as
suas conseqüências, uma vez que não as poderá evitar totalmente. Deus
deu ao homem, pelas faculdades de que dotou o seu Espírito, os meios de
paralisar no futuro até mesmo os efeitos daqueles flagelos que têm sua
utilidade no quadro geral da Natureza, os quais, contudo, atualmente
atingem os homens no presente.

É assim que ele saneia os terrenos insalubres,
neutraliza os miasmas pestilentos, fertiliza os terrenos incultos e
exerce seu engenho na preservação das inundações; edifica para si
habitações mais sadias, mais sólidas, a fim de resistir aos ventos tão
necessários à purificação da atmosfera e coloca-se ao abrigo das
intempéries; é assim, enfim, que pouco a pouco, a necessidade o estimula
à criação das ciências, com cujo auxílio melhora as condições de
habitabilidade do globo e aumenta a soma do seu bem-estar.

5. Como o homem deve progredir, os males os quais
está exposto são um estimulante ao exercício de sua inteligência, de
todas as faculdades físicas e morais, mediante o incitamento à pesquisa
dos meios de se subtrair aos mesmos males. Se nada receasse, nenhuma
necessidade o levaria à busca do que é melhor; seu espírito se
entorpeceria na ina tividade; nada inventaria e nada descobriria. A dor é
o aguilhão que empurra o homem para a frente na via do progresso.

6. Porém os males mais numerosos são aqueles que o
homem criou para si, por seus próprios vícios, aqueles que provêm de seu
orgulho, de seu egoísmo, de sua ambição, de sua cobiça, de seus
excessos em todas as coisas; aí está a causa das guerras e das
calamidades que elas geram, das dissensões, das injustiças, da opressão
do fraco pelo mais forte, enfim, da maior parte das moléstias.

Deus estabeleceu leis cheias de sabedoria, as quais
não têm outra finalidade senão o bem; o homem encontra em si mesmo tudo o
que é necessário para segui-las; seu caminho é traçado por sua
consciência; a lei divina está gravada em seu coração; e além disso,
Deus as faz lembrar sem cessar, por seus messias e seus profetas, por
todos os Espíritos encarnados que receberam a missão de esclarecê-lo,
moralizá-lo, aperfeiçoá-lo, e nestes últimos tempos, pela multidão de
Espíritos desencarnados que se manifestam em todos os lugares. Se o
homem se conformasse rigorosamente com as leis divinas, não é duvidoso
que evitaria os males mais amargos, e que viveria feliz sobre a terra.
Se não o faz, é em virtude de seu livre-arbítrio, e disso ele sofre as
conseqüências. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, ns. 4, 5, e 6
e seguintes).

7. Deus, porém, cheio de bondade, colocou o remédio
ao lado do mal, isto é, do próprio mal faz sair o bem. Chega um momento
em que o excesso do mal moral torna-se intolerável e faz com que o homem
sinta necessidade de mudar de caminho; instruído pela experiência, é
compelido a procurar um remédio no bem, sempre por efeito de seu
livre-arbítrio; quando penetra num caminho melhor, o faz por efeito de
sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro traçado. A
necessidade o obriga a se melhorar moralmente pelo desejo de ser mais
feliz, assim como esta mesma necessidade o impeliu a melhorar as
condições materiais de sua existência (nº 5).

8. Pode-se dizer que o mal é a ausência do bem, como o
frio é a falta de calor. O mal não é um atributo distinto, assim como o
frio não é um fluido especial; um é a negação do outro. Onde o bem não
existe, forçosamente existe o mal; deixar de fazer o mal já é o começo
do bem. Deus não quer senão o bem; o mal provém unicamente do homem. Se
na criação houvesse um ser predisposto ao mal, ninguém o poderia evitar;
porém, tendo o homem a causa do mal em SI MESMO, e tendo ao mesmo tempo
seu livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitará o mal quando
quiser.



Tomemos para
comparação um fato vulgar. Um proprietário sabe que a extremidade de seu
campo é um lugar perigoso no qual poderia perecer ou machucar-se quem
ali se aventurasse. Que faz ele para evitar os acidentes? Coloca nas
proximidades de tal lugar, um aviso proibindo que prossigam os que por
ali passem, devido ao perigo. Eis a lei; ela é sábia e previdente. Se,
apesar disso, um imprudente não lhe dá atenção e ultrapassa tal lugar, e
se assim chega a um mau resultado, a quem poderá ele responsabilizar,
senão a si mesmo?

Assim sucede com todo o mal; o homem o evitaria se
observasse as leis divinas; para exemplificar, Deus colocou um limite à
satisfação de suas necessidades; o homem é advertido à saciedade; se
ultrapassa esse limite, o faz voluntariamente. As moléstias, as
enfermidades, a morte que delas podem resultar, são o resultado de sua
imprevidência, e não de ato de Deus.

9. Sendo o mal o resultado das imperfeições do homem,
e sendo o homem criado por Deus, dir-se-ia, ter Deus criado senão o
mal, pelo menos a causa do mal; tivesse ele feito o homem perfeito, o
mal não existiria.

Se o homem tivesse sido criado perfeito, seria levado
fatalmente ao bem; ora, em virtude de seu livre-arbítrio, ele não é
fatalmente levado, nem ao bem, nem ao mal. Deus quis que ele fosse
submetido à lei do progresso e que esse progresso fosse o fruto de seu
próprio trabalho, a fim de que tivesse o mérito desse trabalho, do mesmo
modo que carrega a responsabilidade do mal que é feito por sua vontade.
Levanta-se, pois, a questão, de saber qual é no homem a fonte da
propensão para o mal. (10)

10. Se estudarmos todas as paixões, e assim também
todos os vícios, veremos que ambos têm seu princípio no instinto de
conservação. Tal instinto existe com toda sua força, nos animais e nos
seres primitivos que se aproximam mais à animalidade; aí ele domina
sozinho, porque em tais seres, ainda não tem o contra-peso do senso
moral; o ser ainda não nasceu na vida intelectual. Ao contrário, o
instinto se enfraquece à medida que a inteligência se desenvolve, pois
que a inteligência domina a matéria.



O destino do Espírito
é a vida espiritual; porém, nas primeiras fases de sua existência
corporal, apenas tem necessidades materiais a satisfazer, e com vistas a
esta finalidade o exercício das paixões é uma necessidade para a
conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando.
Entretanto, saindo desse período, tem outras necessidades; a princípio,
necessidades semimorais e semimateriais, e depois, exclusivamente
morais. É então que o Espírito domina a matéria; se ele abala o jugo da
matéria, avança em sua estrada providencial, aproxima-se de seu destino
final. Se, ao contrário, deixa dominar-se por ela, o Espírito se
retarda, assemelhando-se ao bruto. Nesta situação, o que outrora era um
bem, porque era uma necessidade de sua natureza, torna-se um mal, não
somente porque não é mais uma necessidade, mas porque tal se torna
nocivo à espiritualização do ser. De modo semelhante; o que é qualidade
na criança torna-se defeito no adulto. Assim, o mal é relativo, e a
responsabilidade é proporcional ao grau de progresso.

Logo, todas as paixões têm sua utilidade
providencial; sem isso, Deus teria feito algo de inútil e de nocivo. É o
abuso que constitui o mal, e o homem abusa em virtude de seu
livre-arbítrio. Mais adiante, eslarecido por seu próprio interesse, ele
escolhe livremente entre o bem e o mal.

(10) O erro consiste em pretender que a alma saia
perfeita das mãos do Criador, enquanto que este, ao contrário, quis que a
perfeição fosse o resultado da purificação gradual do Espírito, e sua
própria obra. Deus quis que a alma, em virtude de seu livre-arbítrio,
pudesse optar entre o bem e o mal e que alcançasse suas finalidades
mediante uma vida militante, e em resistência ao mal. Se houvesse criado
a alma perfeita como ele, e, ao sair de suas mãos, já lhe houvesse
assegurado sua beatitude eterna, ele a teria feito, não à sua imagem,
mas sim, semelhante a si próprio (Bonnamy, Juiz de instrução: "A Razão
do Espiritismo", cap. VI).

Copyright 2004 - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora

(Instituição Filantrópica)

Livro selecionado: "A Gênese" 

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