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Ela pode ser invisível aos olhos humanos.Mas não aos olhos da sua consciência







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domingo, 30 de dezembro de 2012

CONHECER-SE PARA TRANSFORMAR-SE

 

 



Para todos que desejem sustentar-se na luta sem tréguas, encontramos em Santo Agostinho uma das estratégias mais eficazes de autotransformação (e por conseqüência de vitória sobre nós mesmos). Trata-se da meditação diária sobre os próprios atos, fundamental se desejamos combater o mal em nós mesmos sistematicamente. A lição agostiniana está inserida na última questão (919 e 919-a) da Parte Terceira Das leis morais, no capítulo XII, Da perfeição moral de O Livro dos Espíritos.

Na primeira parte da questão (919) Kardec indaga dos espíritos: “Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?” A resposta, muito direta e clara é também concisa: “Um sábio da antigüidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”

Muito arguto, Kardec desdobra a questão buscando solucionar a questão prática que envolve o tema: o como fazê-lo: ”Conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?”

Santo Agostinho, como resposta, tece muitas considerações, que resumiremos a seguir:
Devemos interrogar a própria consciência, passando em revista os atos cotidianos, para a identificação dos desvios do deveres que deveriam ter sido cumpridos e dos motivos alheios de queixa por conta dos nossos atos. Por este meio chegou ele, Santo Agostinho, a se conhecer “e a ver o que [nele] precisava de reforma”.
Quem se disponha a examinar os atos cotidianos para identificação do bem ou do mal que se possa ter feito “grande força adquiriria para se aperfeiçoar”. Acresce ele que se deve rogar a Deus e aos espíritos protetores esclarecimento, pois “Deus o assistiria” neste sentido.
Propõe para o exame dos atos cotidianos o dirigir a si mesmo perguntas, o interrogar-se sobre o que se faz e com que propósito para identificarmos se fizemos algo que censuraríamos se praticado por outra pessoa, e também se fizemos algo que não ousaríamos confessar.
Propõe ainda mais, fazendo-nos situar diante da vida na condição daquele que pode retornar ao mundo dos Espíritos a qualquer instante, onde deveremos fazer o balanço dos próprios atos praticados durante a experiência carnal: ao desembarcar no outro lado da vida onde nada pode ser ocultado teríamos “que temer o olhar de alguém”?
A prova de que podemos descansar a consciência está em examinar se nada fizemos contra a Divindade, ao próximo e a nós mesmos.
Porque seja difícil a auto-avaliação, o auto-julgamento por conta das ilusões do amor-próprio, é proposto como meio de verificação isento de ilusão perguntar a si mesmo como classificaríamos nossas próprias ações, se praticadas por outras pessoas. Se tivermos motivos para censurar tais ações, torna-se claro que não devemos agir do mesmo modo.
Na mesma linha de raciocínio, propõe ele que procuremos verificar o que pensam os outros sobre os nossos atos. E mais: a opinião dos inimigos, por não terem nenhum interesse em mascarar a verdade, não deve ser desprezada, pois eles são um bom meio de advertência, utilizando-se com mais freqüência da franqueza do que faria um amigo.
Aconselha ainda àqueles que se sintam possuído do desejo sério de melhorar-se a investigar minuciosamente a própria consciência a fim de extirpar de si os maus pendores. E tal como ele próprio o fazia, que busquemos dar um balanço diário de nossas ações morais, para avaliarmos perdas e lucros; os lucros serão maiores que as perdas se assim agirmos.
Em seguida Santo Agostinho afirma textualmente: “Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.” O seu dia, cremos nós, deve ser entendido com a culminância de uma sucessão de dias. De qualquer forma, indica-nos a necessidade de aproveitarmos bem todos os dias, dando atenção ao tempo que costuma fugir-nos das mãos, caso não o administremos bem.
Como meio de auto-exame da consciência, recomenda que formulemos “questões nítidas e precisas”, não temendo multiplicá-las, de modo a nos interrogarmos acerca de nossos próprios atos. Este diálogo íntimo, que não toma mais que alguns minutos e “alguns esforços”, é meio de conquista da “felicidade eterna”.
Posto que muitos têm o futuro como incerto, é que os espíritos vêm dissipar as nossas incertezas “por meio de fenômenos” capazes de nos ferir os sentidos e de “instruções” (que nos cabe, por nossa vez, também disseminar).

O comentário breve de Kardec a esta resposta é digno também de exame. E para tanto tomamos a liberdade de transcrevê-lo literalmente:

Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que qualquer máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um sim ou não, que não abrem lugar para qualquer alternativa e que são outros tantos argumentos pessoais. E, pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós.
A título de conclusão

Diante da banalização do mal que se espalha pelo mundo dos homens, resta-nos individual e coletivamente nos lançarmos ao bom combate, que é constante, exigindo-nos disciplina e perseverança. A guerra do bem contra o mal, tema de incontáveis livros e filmes, deve ser travada nos domínios dos nossos próprios corações, acima de tudo.




Lembrando-nos da alegoria dos ovos da serpente, devemos quebrá-los todos ainda no ninho, antes que libertemos o mal que ainda teima em fazer morada em nós. Se já desencadeamos o mal, somente nos resta sofrer-lhe as conseqüências, com serenidade e resistência.

Se nos embaraçamos nas tramas do mal, não basta arrependermo-nos de nossos atos e nos comprometermos à mudança por desencargo de consciência (ou por quaisquer formas de promessas); é necessário meditarmos profundamente no móvel de nossas ações; é preciso, enfim, mergulharmos a sonda da investigação em nosso espírito para o exame de nossos mais profundos sentimentos e pensamentos.

Se a nossa má ação decorreu, por exemplo, do exercício da violência, devemos buscar em nosso coração as raízes desta violência, esteja ela onde esteja; e somente há um meio de extirparmos definitivamente as raízes de todos os males: estarmos de permanente prontidão para domar, controlar-lhes as expressões... Aprende-se nas reuniões dos Anônimos (alcoólicos, em particular) que nossos vícios (as más paixões) não tem propriamente cura, mas tão somente controle. As lutas sem fim e sem quartel contra o mal exige-nos, desta forma, uma plena disponibilidade de vigilância e oração.

Caso nossa "meditação" acerca das raízes e frutos do mal seja superficial; caso não examinemos com rigor as causas de nossas ações, fatalmente incorreremos nos mesmos erros, quando as circunstâncias mudarem, quando forem outros os cenários. O motivo da reincidência está em que nós não exercitamos nosso "raciocínio moral", que também se desenvolve como o raciocínio lógico, matemático, etc.

Por outro lado, mesmo que não estejamos às voltas com as expressões mais visíveis do mal, como as paixões humanas tornaram-se mais “violentas e devastadoras, no homem que prossegue inquieto”, segundo Joanna de Ângelis, é possível que as conseqüências destas paixões nos atinjam, diretamente ou indiretamente. A tendência de nos refugiarmos no nosso mundo ainda preservado do contágio de tantos males pode nos tornar alheios a este mundo de provas e expiações. Mantermo-nos sensíveis à dor do próximo, por mais que isto nos possa incomodar ou constranger é atitude genuinamente cristã... Refugiar-se na indiferença, como fuga aos incômodos que as dores, as paixões e erros alheios nos causam, não é medida salutar.

Necessário se torna que aprendamos com nossas vivências práticas e com os exercícios do “raciocínio moral” e com um farto material de aprendizagem: os erros próprios e os alheios. O aprimoramento ético-moral exige, enfim, reflexão e mergulho em si mesmo. E se necessário for, que revisemos periodicamente nossas quedas e deslizes no campo moral, ativando a memória para nos lembrarmos dos tantos espinhos que já trazemos cravados na "carne do espírito", tal como ensina Paulo de Tarso. Estes espinhos nos lembrarão a nossa condição de enfermos em estágio de longa recuperação, necessitados de cautela...

E no mais, que acreditemos, como em Juízo Final, canção de Nelson Cavaquinho, que “do mal será queimada a semente / o amor será eterno novamente”, tendo a certeza de que todo o império do mal ruirá quando rompermos os elos que mantemos com as porções inferiores de nossa própria individualidade!  Desconheço a autoria.Se alguem conhecer o autor, favor anota

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