Glândula pineal
(Newton da Cruz Rocha)
A glândula pineal ou epífise (não confundir com hipófise ) está
situada na parede posterior do teto do diencéfalo e tem origem ependimária
(ligação com o teto do 3° ventrículo ou ventrículo médio). Tem forma ovóide e
lembra um caroço de azeitona. O interesse pela glândula é bastante antigo sendo
que seus primeiros estudos datam 300 anos antes de Cristo e o filósofo francês
René Descartes (1596-1650) já se interessava pela mesma e atribuía a ela a
função de ser a sede da alma . De lá para cá foram feitas várias pesquisas,
sendo algumas sem nenhum fundamento e só as mais recentes tem dado alguma
contribuição científica.
Fig. 1 : Localização da glândula pineal. Fonte:
Fig. 2 : Glândula pineal humana. Adaptado de http://www.williamhenry.net/spear.html
Descobriu-se que ela apresenta metabolismo intenso e grande
captação de substâncias como aminoácidos, fósforo e iodo, sendo que no caso
deste último só perde para a tireóide. Ela está ligada ao terceiro ventículo e
produz o hormônio melatonina durante a noite, devido à ausência de luz. É
constituída por pinealócitos (produtoras de melatonina), astrócitos, e vasos
sanguíneos.
Fig. 3: Corte histológico de glândula pineal. Fonte: http://www.lab.anhb.uwa.edu.au/mb140/CorePages/Endocrines/endocrin.htm
Pelo fato dela estar ligada ao terceiro ventrículo e, desta
forma, ao líquor (LCR) pode liberar substâncias para o mesmo e para o sangue
hipofisário, que parecem interferir na hipófise tanto na síntese de GH como de
GnRH.
Seu funcionamento depende da luminosidade que atinge seus
receptores celulares na retina e que trafegam pelo SNC passando pelo núcleo
supraquiasmático. Tais vias seguem para a medula espinhal e atingem os neurônios
vegetativos da coluna intermédio-lateral. Daí passam pela cadeia ganglionar
cervical e, aderidos à carótida interna, atingem a glândula. Neste ponto os
terminais vegetativos são de tipo ß- adrenérgicos e acoplam com receptores de
membrana. A ativação do sistema AMP cíclico ordena a pineal a produzir
melatonina, seu principal hormônio (não confundir com melanina, pigmento dos
melanócitos).
Fig. 4: Mecanismo de estimulação da secreção de
melatonina. Fonte: http://thebrain.mcgill.ca/flash/a/a_11/a_11_cr/a_11_cr_hor/a_11_cr_hor.html
O ritmo de secreção da melatonina segue um ritmo circadiano ,
sendo liberada no período escuro e inibida pela claridade. O produto sanguíneo
inicial é o triptofano, que por transformações sucessivas (enzimáticas) dá
origem à melatonina. Entre tais enzimas podemos destacar a HIOMT que também está
vinculada ao metabolismo dos adrenérgicos (bioquímica dos terminais vegetativos
simpáticos).
Fig. 5: Variação dos níveis séricos de melatonina ao
longo do dia. Fonte: http://www.colorado.edu/intphys/Class/IPHY3430-200/022endocrine1.htm
A glândula tem seu ponto alto de desenvolvimento à época da
puberdade, quando é máxima a produção de melatonina. A partir daí, a glândula
sofre um processo de calcificação progressiva e cujas concreções (produtos
sólidos) receberam o nome de areia cerebral ou acérvula .
Fig. 6: Microcristais de calcita na glândula pineal (imagem
feita por microscopia eletrônica de varredura). Adaptado de: http://www.williamhenry.net/spear.html
.Fonte: http://www.starweave.com/pinealsummary/
Com essa diminuição de atividade, e consequentemente da
produção hormonal, parece que ocorre uma “liberação” do hipotálamo que passa a
secretar e liberar o GnRH que estimula os gonadotróficos (FSH/LH). Assim, o
início de declínio da pineal está associado ao processo de desencadeamento da
puberdade.
Fig. 7: Vista esquemática do caminho através do qual as
informações sobre o fotoperíodo regulam a reprodução em mamíferos e em aves.
Fonte: http://universe-review.ca/F10-multicell.htm
Outros efeitos da melatonina podem ser: indução do sono,
aparecimento do “sono REM”, melhoria do desconforto produzido pela alteração do
fuso horário (geralmente causado por longas viagens de avião) como no caso de
viagens ao Japão. Tal alteração é denominada de “jet-lag”. Há uma patologia
humana denominada de desordem afetiva sazonal (SAD) que melhora quando se
promove um tratamento com luminosidade artificial com 2.500 lux de 5 a 6 horas
(pela manhã e à tarde). Uma boa prova do envolvimento da melatonina é que
durante o tratamento citado, a ingestão de melatonina atrapalha e piora o
tratamento (recidiva).
Em animais inferiores, como rãs e sapos ou seus girinos ou
imagos, a melatonina promove clareamento da superfície corporal ao antagonizar a
ação do MSH da “pars intermedia” da hipófise. Ainda dentro do esquema de
antagonismo, podemos citar que a antiga prova de gravidez positiva, denominada
teste de Galli-Manini, feita em sapos machos com urina de mulher grávida, podia
falhar se administrássemos ao sapo (algumas horas antes da prova) a melatonina
(inibição do hCG placentário que estaria presente na urina positiva).
Quanto à patologias na pineal, têm sido relatados casos de
tumores que podem originar puberdade precoce ou puberdade retardada, dependendo
da localização do tumor. Os pinealócitos, quando tumorais, exacerbam a produção
de melatonina, e assim inibem a puberdade. No caso contrário sofrem compressão
por parte das células intersticiais e diminuem a produção de melatonina,
liberando a puberdade mais rapidamente (não inibição do GnRH).
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