II - Mundos Transitórios
. Existem, como foi dito, mundos que servem de estações ou de lugares de repouso aos Espíritos errantes?
— Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes,
mundos que eles podem habitar temporariamente, espécie de acampamentos,
de lugares em que possam repousar de erraticidades muito longas, que são
sempre um pouco penosas. São posições intermediárias entre os outros
mundos, graduados de acordo com a natureza dos Espíritos que podem
atingi-los, e que neles gozam de maior ou menor bem-estar.
. Os Espíritos que habitam esses mundos podem deixá-los à vontade?
— Sim, os Espíritos que se encontram nesses mundos podem deixá-los,
para seguir o seu destino. Figurai-os como aves de arribação descendo
numa ilha, para recuperarem suas forças e seguirem avante.
. Os Espíritos progridem durante essas estações nos mundos transitórios?
— Certamente. Os que assim se reúnem têm o fito de se instruírem e
poder mais facilmente obter a permissão de ir a lugares melhores até
chegar à posição dos eleitos.
. Os mundos transitórios são, por sua natureza especial, perpetuamente destinados aos Espíritos errantes?
— Não, sua posição é apenas temporária.
São eles ao mesmo tempo habitados por seres corpóreos?
— Não, sua superfície é estéril. Os que os habitam não precisam de nada.
. Essa esterilidade é permanente e se liga à sua natureza especial?
— Não; são estéreis transitoriamente.
. Esses mundos seriam, então desprovidos de belezas naturais?
— A Natureza se traduz pela belezas da imensidade, que não são menos admiráveis do que as que chamais belezas naturais.
. Sendo transitório o estado desses mundos, a Terra terá um dia de estar entre eles?
— Já esteve.
. Em que época?
— Durante a sua formação.
Nada existe de inútil na Natureza; cada coisa tem a sua finalidade, a
sua destinação; nada é vazio, tudo é habitado, a vida se expande por
toda parte. Assim, durante a longa série de séculos que se escoou antes
da aparição do homem sobre a Terra, durante os lentos períodos de
transição atestados pelas camadas geológicas, antes mesmo da formação
dos primeiros seres orgânicos, sobre essa massa informe, nesse árido
caos em que os elementos se confundiam, não havia ausência de vida.
Seres que não tinham as nossas necessidades, nem as nossas sensações
físicas, ali encontravam refúgio. Deus quis que, mesmo nesse estado
imperfeito, ela servisse para alguma coisa. Quem, pois, ousaria dizer
que, entre os bilhões de mundos que circulam na imensidade, apenas um, e
um dos menores, perdido na multidão, teve o privilégio exclusivo de ser
povoado? Qual seria a utilidade dos outros? Deus só os teria feito para
recrear os nossos olhos? Suposição absurda, incompatível com a
sabedoria que brilha em todas as suas obras, inadmissíveis quando se
pensa em todas as que não podemos perceber. Ninguém poderá negar que há,
nesta idéia dos mundos ainda impróprios para a vida material, e
entretanto povoados de seres apropriados ao seu estado, alguma coisa de
grande e sublime, onde talvez se encontre a solução de mais de um
problema.
Vida Espírita
V - Escolha das Provas
. No estado errante, antes de nova existência corpórea, o Espírito
tem consciência e previsão do que lhe vai acontecer durante a vida?
— Ele mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre-arbítrio.
. Não é Deus quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo?
— Nada acontece sem a permissão de Deus porque foi ele quem
estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Perguntareis agora por
que ele fez tal lei em vez de tal outra! Dando ao Espírito a liberdade
de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade dos seus atos e das suas
conseqüências; nada lhe estorva o futuro; o caminho do bem está à sua
frente, como o do mal. Mas se sucumbir, ainda lhe resta uma consolação, a
de que nem tudo se acabou para ele, pois Deus, na sua bondade,
permite-lhe recomeçar o que foi mal feito. É necessário distinguir o que
é obra da vontade de Deus e o que é da vontade do homem. Se um perigo
vos ameaça, não fostes vós que o criastes, mas Deus; tiveste, porém, a
vontade de vos expordes a ele, porque o considerastes um meio de
adiantamento; e Deus o permitiu.
Se o Espírito escolhe o gênero de provas que deve sofrer, todas
as tribulações da vida foram previstas e escolhidas por nós?
— Todas, não, pois não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo
o que vos acontece no mundo, até as menores coisas. Escolhestes o
gênero de provas; os detalhes são conseqüências da posição escolhida, e
freqüentemente de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre
malfeitores, por exemplo, já sabia a que deslises se expunha, mas não
conhecia cada um dos atos que praticaria; esses atos são produtos de sua
vontade ou do seu livre-arbítrio. O Espírito sabe que, escolhendo esse
caminho, terá de passar por esse gênero de lutas; e sabe de que natureza
são as vicissitudes que irá encontrar; mas não sabe quais os
acontecimentos que o aguardam. Os detalhes nascem das circunstâncias e
da força das coisas. Só os grandes acontecimentos, que influem no
destino, estão previstos. Se tomas um caminho cheio de desvios, sabes
que deves ter muitas precauções, porque corres o perigo de cair, mas não
sabes quando cairás, e pode ser que nem caias, se fores bastante
prudente. Se ao passar pela rua, uma telha te cair na cabeça, não penses
que estava escrito, como vulgarmente se diz.
. Como o Espírito pode querer nascer entre gente de má vida?
— É necessário ser enviado ao meio em que possa sofrer a prova
pedida. Pois bem: o semelhante atrai o semelhante, e para lutar contra o
instinto do bandido é preciso que ele se encontre entre gente dessa
espécie.
. Se não houvesse gente de má vida na Terra, o Espírito não poderia encontrar nela o meio necessário a certas provas?
— E deveríamos lamentar isso? É o que acontece nos mundos superiores,
onde o mal não tem acesso. É por isso que neles só existem bons
Espíritos. Fazei que o mesmo aconteça, bem logo,em vossa Terra.
. O Espírito, nas provas que deve sofrer para chegar à perfeição,
terá de experimentar todos os gêneros de tentações? Deverá passar por
todas as circunstâncias que possam provocar-lhe o orgulho, o ciúme, a
avareza, a sensualidade, etc.?
— Certamente não, pois sabeis que há os que tomam desde o princípio,
um caminho que os afasta de muitas provas. Mas aquele que se deixa levar
pelo mau caminho, corre todos os perigos do mesmo. Um Espírito pode
pedir a riqueza e esta lhe será dada; então, segundo o seu caráter,
poderá tornar-se avarento ou pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda
entregar-se a todos os prazeres da sensualidade. Mas isso não quer dizer
que ele devia passar forçosamente por todas essas tendências.
. Como pode o Espírito, que em sua origem é simples, ignorante e
sem experiência, escolher uma existência com conhecimento de causa e ser
responsável pela sua escolha?
— Deus supre a sua inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve
seguir, como fazes com uma criança desde o berço. Mas deixa-lhe pouco a
pouco a liberdade de escolher, à medida que o seu livre-arbítrio se
desenvolve. É então que ele muitas vezes se extravia, tomando o mau
caminho, por não ouvir os conselhos dos bons Espíritos. É a isso que
podemos chamar a queda do homem.
. Quando o Espírito goza do seu livre-arbítrio, a escolha da
existência corpórea depende sempre exclusivamente da sua vontade, ou
essa existência pode lhe ser imposta pela vontade de Deus, como
expiação?
— Deus sabe esperar: não precipita a expiação. Entretanto, pode impor
certa existência a um Espírito, quando este, por sua inferioridade ou
má vontade, não está apto a compreender o que lhe seria mais proveitoso,
e quando vê que essa existência pode servir para a sua purificação, o
seu adiantamento, e ao mesmo tempo servir-lhe de expiação.
. O Espírito faz a escolha imediatamente após a morte?
— Não, pois muitos crêem na eternidade das penas, e como já vos foi dito, isso é um castigo.
. O que orienta o Espírito na escolha das provas?
— Ele escolhe as que podem servir de expiação, segundo a natureza de
suas faltas, e fazê-lo adiantar mais rapidamente. Uns podem impor-se uma
vida de misérias e provações para tentar suportá-la com coragem;
outros, querem experimentar as tentações da fortuna e do poder, bem mais
perigosas, pelo abuso e o mau emprego que se lhes pode dar e pelas más
paixões que desenvolvem; outros, enfim, querem ser provados nas lutas
que terão de sustentar no contato com o vício.
. Se alguns dos Espíritos escolhem o contato com o vício, como
prova, há os que o escolhem por simpatia e pelo desejo de viver num meio
adequado aos seus gostos, ou para poderem entregar-se livremente às
suas inclinações materiais?
— Há, por certo, mas só entre aqueles cujo senso moral é ainda pouco
desenvolvido; a prova decorre disso, e eles a sofrem por tempo mais
longo. Cedo ou tarde compreenderão que a satisfação das paixões brutais
tem para eles conseqüências deploráveis, que terão de sofrer durante um
tempo que lhes parecerá eterno. Deus poderá deixá-los nesse estado até
que eles tenham compreendido suas faltas, pedindo por si mesmos o meio
de resgatá-las em provas proveitosas.
Não parece natural que os Espíritos escolham as provas menos penosas?
— Para vós, sim; para o Espírito, não. Quando ele está liberto da
matéria, cessa a ilusão, e a sua maneira de pensar é diferente.
O homem, submetido na Terra à influência das idéias carnais, só vê
nas suas provas o lado penoso. É por isso que lhe parece natural
escolher as que, do seu ponto de vista, podem subsistir com os prazeres
materiais. Mas na vida espiritual ele compara os prazeres fugitivos e
grosseiros com a felicidade inalterável que entrevê, e então, que lhe
importam alguns sofrimentos passageiros? O Espírito pode escolher a
prova mais rude, e em conseqüência a existência mais penosa, com a
esperança de chegar mais depressa a um estado melhor, como o doente
escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável, para se curar mais
rapidamente. Aquele que deseja ligar o seu nome à descoberta de um país
desconhecido, não escolhe um caminho coberto de flores, pois sabe os
perigos que corre, mas sabe também a glória que o espera, se for feliz.
A doutrina da liberdade de escolha das nossas existências, e das
provas que devemos sofrer, deixa de parecer extraordinária, quando se
considera que os Espíritos, libertos da matéria, apreciam as coisas de
maneira diferente da nossa. Eles antevêem o fim, e esse fim lhe parece
muito mais importante que os prazeres fugidios do mundo. Depois de cada
existência, vêem o progresso que fizeram e compreendem quanto ainda lhes
falta em pureza, para o atingirem. Eis porque se submetem
voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea, pedindo eles
mesmos aquelas que podem fazê-los chegar mais depressa. Não há pois
motivo para nos admirarmos de que o Espírito não dê preferência à
existência mais suave. No seu estado de imperfeição, ele não pode
desfrutar a vida sem amarguras, que apenas entrevê. E é para atingi-la
que procura melhorar-se.
. Existem, como foi dito, mundos que servem de estações ou de lugares de repouso aos Espíritos errantes?
— Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes,
mundos que eles podem habitar temporariamente, espécie de acampamentos,
de lugares em que possam repousar de erraticidades muito longas, que são
sempre um pouco penosas. São posições intermediárias entre os outros
mundos, graduados de acordo com a natureza dos Espíritos que podem
atingi-los, e que neles gozam de maior ou menor bem-estar.
. Os Espíritos que habitam esses mundos podem deixá-los à vontade?
— Sim, os Espíritos que se encontram nesses mundos podem deixá-los,
para seguir o seu destino. Figurai-os como aves de arribação descendo
numa ilha, para recuperarem suas forças e seguirem avante.
. Os Espíritos progridem durante essas estações nos mundos transitórios?
— Certamente. Os que assim se reúnem têm o fito de se instruírem e
poder mais facilmente obter a permissão de ir a lugares melhores até
chegar à posição dos eleitos.
. Os mundos transitórios são, por sua natureza especial, perpetuamente destinados aos Espíritos errantes?
— Não, sua posição é apenas temporária.
São eles ao mesmo tempo habitados por seres corpóreos?
— Não, sua superfície é estéril. Os que os habitam não precisam de nada.
. Essa esterilidade é permanente e se liga à sua natureza especial?
— Não; são estéreis transitoriamente.
. Esses mundos seriam, então desprovidos de belezas naturais?
— A Natureza se traduz pela belezas da imensidade, que não são menos admiráveis do que as que chamais belezas naturais.
. Sendo transitório o estado desses mundos, a Terra terá um dia de estar entre eles?
— Já esteve.
. Em que época?
— Durante a sua formação.
Nada existe de inútil na Natureza; cada coisa tem a sua finalidade, a
sua destinação; nada é vazio, tudo é habitado, a vida se expande por
toda parte. Assim, durante a longa série de séculos que se escoou antes
da aparição do homem sobre a Terra, durante os lentos períodos de
transição atestados pelas camadas geológicas, antes mesmo da formação
dos primeiros seres orgânicos, sobre essa massa informe, nesse árido
caos em que os elementos se confundiam, não havia ausência de vida.
Seres que não tinham as nossas necessidades, nem as nossas sensações
físicas, ali encontravam refúgio. Deus quis que, mesmo nesse estado
imperfeito, ela servisse para alguma coisa. Quem, pois, ousaria dizer
que, entre os bilhões de mundos que circulam na imensidade, apenas um, e
um dos menores, perdido na multidão, teve o privilégio exclusivo de ser
povoado? Qual seria a utilidade dos outros? Deus só os teria feito para
recrear os nossos olhos? Suposição absurda, incompatível com a
sabedoria que brilha em todas as suas obras, inadmissíveis quando se
pensa em todas as que não podemos perceber. Ninguém poderá negar que há,
nesta idéia dos mundos ainda impróprios para a vida material, e
entretanto povoados de seres apropriados ao seu estado, alguma coisa de
grande e sublime, onde talvez se encontre a solução de mais de um
problema.
Vida Espírita
V - Escolha das Provas
. No estado errante, antes de nova existência corpórea, o Espírito
tem consciência e previsão do que lhe vai acontecer durante a vida?
— Ele mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre-arbítrio.
. Não é Deus quem lhe impõe as tribulações da vida, como castigo?
— Nada acontece sem a permissão de Deus porque foi ele quem
estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Perguntareis agora por
que ele fez tal lei em vez de tal outra! Dando ao Espírito a liberdade
de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade dos seus atos e das suas
conseqüências; nada lhe estorva o futuro; o caminho do bem está à sua
frente, como o do mal. Mas se sucumbir, ainda lhe resta uma consolação, a
de que nem tudo se acabou para ele, pois Deus, na sua bondade,
permite-lhe recomeçar o que foi mal feito. É necessário distinguir o que
é obra da vontade de Deus e o que é da vontade do homem. Se um perigo
vos ameaça, não fostes vós que o criastes, mas Deus; tiveste, porém, a
vontade de vos expordes a ele, porque o considerastes um meio de
adiantamento; e Deus o permitiu.
Se o Espírito escolhe o gênero de provas que deve sofrer, todas
as tribulações da vida foram previstas e escolhidas por nós?
— Todas, não, pois não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo
o que vos acontece no mundo, até as menores coisas. Escolhestes o
gênero de provas; os detalhes são conseqüências da posição escolhida, e
freqüentemente de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre
malfeitores, por exemplo, já sabia a que deslises se expunha, mas não
conhecia cada um dos atos que praticaria; esses atos são produtos de sua
vontade ou do seu livre-arbítrio. O Espírito sabe que, escolhendo esse
caminho, terá de passar por esse gênero de lutas; e sabe de que natureza
são as vicissitudes que irá encontrar; mas não sabe quais os
acontecimentos que o aguardam. Os detalhes nascem das circunstâncias e
da força das coisas. Só os grandes acontecimentos, que influem no
destino, estão previstos. Se tomas um caminho cheio de desvios, sabes
que deves ter muitas precauções, porque corres o perigo de cair, mas não
sabes quando cairás, e pode ser que nem caias, se fores bastante
prudente. Se ao passar pela rua, uma telha te cair na cabeça, não penses
que estava escrito, como vulgarmente se diz.
. Como o Espírito pode querer nascer entre gente de má vida?
— É necessário ser enviado ao meio em que possa sofrer a prova
pedida. Pois bem: o semelhante atrai o semelhante, e para lutar contra o
instinto do bandido é preciso que ele se encontre entre gente dessa
espécie.
. Se não houvesse gente de má vida na Terra, o Espírito não poderia encontrar nela o meio necessário a certas provas?
— E deveríamos lamentar isso? É o que acontece nos mundos superiores,
onde o mal não tem acesso. É por isso que neles só existem bons
Espíritos. Fazei que o mesmo aconteça, bem logo,em vossa Terra.
. O Espírito, nas provas que deve sofrer para chegar à perfeição,
terá de experimentar todos os gêneros de tentações? Deverá passar por
todas as circunstâncias que possam provocar-lhe o orgulho, o ciúme, a
avareza, a sensualidade, etc.?
— Certamente não, pois sabeis que há os que tomam desde o princípio,
um caminho que os afasta de muitas provas. Mas aquele que se deixa levar
pelo mau caminho, corre todos os perigos do mesmo. Um Espírito pode
pedir a riqueza e esta lhe será dada; então, segundo o seu caráter,
poderá tornar-se avarento ou pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda
entregar-se a todos os prazeres da sensualidade. Mas isso não quer dizer
que ele devia passar forçosamente por todas essas tendências.
. Como pode o Espírito, que em sua origem é simples, ignorante e
sem experiência, escolher uma existência com conhecimento de causa e ser
responsável pela sua escolha?
— Deus supre a sua inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve
seguir, como fazes com uma criança desde o berço. Mas deixa-lhe pouco a
pouco a liberdade de escolher, à medida que o seu livre-arbítrio se
desenvolve. É então que ele muitas vezes se extravia, tomando o mau
caminho, por não ouvir os conselhos dos bons Espíritos. É a isso que
podemos chamar a queda do homem.
. Quando o Espírito goza do seu livre-arbítrio, a escolha da
existência corpórea depende sempre exclusivamente da sua vontade, ou
essa existência pode lhe ser imposta pela vontade de Deus, como
expiação?
— Deus sabe esperar: não precipita a expiação. Entretanto, pode impor
certa existência a um Espírito, quando este, por sua inferioridade ou
má vontade, não está apto a compreender o que lhe seria mais proveitoso,
e quando vê que essa existência pode servir para a sua purificação, o
seu adiantamento, e ao mesmo tempo servir-lhe de expiação.
. O Espírito faz a escolha imediatamente após a morte?
— Não, pois muitos crêem na eternidade das penas, e como já vos foi dito, isso é um castigo.
. O que orienta o Espírito na escolha das provas?
— Ele escolhe as que podem servir de expiação, segundo a natureza de
suas faltas, e fazê-lo adiantar mais rapidamente. Uns podem impor-se uma
vida de misérias e provações para tentar suportá-la com coragem;
outros, querem experimentar as tentações da fortuna e do poder, bem mais
perigosas, pelo abuso e o mau emprego que se lhes pode dar e pelas más
paixões que desenvolvem; outros, enfim, querem ser provados nas lutas
que terão de sustentar no contato com o vício.
. Se alguns dos Espíritos escolhem o contato com o vício, como
prova, há os que o escolhem por simpatia e pelo desejo de viver num meio
adequado aos seus gostos, ou para poderem entregar-se livremente às
suas inclinações materiais?
— Há, por certo, mas só entre aqueles cujo senso moral é ainda pouco
desenvolvido; a prova decorre disso, e eles a sofrem por tempo mais
longo. Cedo ou tarde compreenderão que a satisfação das paixões brutais
tem para eles conseqüências deploráveis, que terão de sofrer durante um
tempo que lhes parecerá eterno. Deus poderá deixá-los nesse estado até
que eles tenham compreendido suas faltas, pedindo por si mesmos o meio
de resgatá-las em provas proveitosas.
Não parece natural que os Espíritos escolham as provas menos penosas?
— Para vós, sim; para o Espírito, não. Quando ele está liberto da
matéria, cessa a ilusão, e a sua maneira de pensar é diferente.
O homem, submetido na Terra à influência das idéias carnais, só vê
nas suas provas o lado penoso. É por isso que lhe parece natural
escolher as que, do seu ponto de vista, podem subsistir com os prazeres
materiais. Mas na vida espiritual ele compara os prazeres fugitivos e
grosseiros com a felicidade inalterável que entrevê, e então, que lhe
importam alguns sofrimentos passageiros? O Espírito pode escolher a
prova mais rude, e em conseqüência a existência mais penosa, com a
esperança de chegar mais depressa a um estado melhor, como o doente
escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável, para se curar mais
rapidamente. Aquele que deseja ligar o seu nome à descoberta de um país
desconhecido, não escolhe um caminho coberto de flores, pois sabe os
perigos que corre, mas sabe também a glória que o espera, se for feliz.
A doutrina da liberdade de escolha das nossas existências, e das
provas que devemos sofrer, deixa de parecer extraordinária, quando se
considera que os Espíritos, libertos da matéria, apreciam as coisas de
maneira diferente da nossa. Eles antevêem o fim, e esse fim lhe parece
muito mais importante que os prazeres fugidios do mundo. Depois de cada
existência, vêem o progresso que fizeram e compreendem quanto ainda lhes
falta em pureza, para o atingirem. Eis porque se submetem
voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea, pedindo eles
mesmos aquelas que podem fazê-los chegar mais depressa. Não há pois
motivo para nos admirarmos de que o Espírito não dê preferência à
existência mais suave. No seu estado de imperfeição, ele não pode
desfrutar a vida sem amarguras, que apenas entrevê. E é para atingi-la
que procura melhorar-se.
Não vemos diariamente exemplos de
coisas parecidas? O homem que trabalha uma parte de sua vida, sem
tréguas nem descanso, a fim de ajuntar o necessário para o seu
bem-estar, não desempenha uma tarefa que se impôs, com vistas a um
futuro melhor? O militar que se oferece para uma missão perigosa, o
viajante que não enfrenta menores perigos, no interesse da ciência ou de
sua própria fortuna, não se submetem a provas voluntárias, que devem
proporcionar-lhe honra e proveito, se as vencerem? A que o homem não se
submete e não se expõe, pelo seu interesse ou pela sua glória? Todos os
concursos não são provas voluntárias para melhorar na carreira
escolhida? Não se chega a nenhuma posição social de elevada importância,
nas ciências, nas artes, na indústria, sem passar pela série de
posições inferiores, que são outras tantas provas. A vida humana é assim
o decalque da vida espiritual. Nela encontramos, em menor escala, todas
as peripécias daquela. Se na vida terrena escolhemos muitas vezes as
provas mais difíceis, com vistas a um fim mais elevado, por que o
Espírito, que vê mais longe, e para quem a vida do corpo é apenas um
incidente fugaz, não escolherá uma existência penosa e laboriosa, se ela
o deve conduzir a uma felicidade eterna? Aqueles que dizem que, se
pudessem escolher a sua existência, teriam pedido a de príncipes ou
milionários, são como os míopes que não vêem o que tocam, ou como as
crianças gulosas, que respondem, quando perguntamos que profissão
preferem: pasteleiros ou confeiteiros.
Da mesma maneira, o viajante, no fundo de um vale nevoento, não vê a
extensão nem os pontos extremos da sua rota; mas, chegando ao cume da
montanha, seu olhar abrange o caminho percorrido e o que falta a
percorrer, vê o final de sua viagem, os obstáculos que ainda tem de
vencer, e pode então escolher com mais segurança os meios de o atingir. O
Espírito encarnado é como o viajante no fundo do vale; desembaraçado
dos liames terrestres, é como o que atingiu o cume. Para o viajante, o
fim é o repouso após a fadiga; para o Espírito é a felicidade suprema,
após as tribulações e as provas.
Todos os Espíritos dizem que, no estado errante, buscam, estudam,
observam, para fazerem suas escolhas. Não temos um exemplo disso na vida
corpórea? Não buscamos muitas vezes, através dos anos, a carreira que
livremente acabamos por escolher, porque a achamos a mais apropriada aos
nossos objetivos? Se fracassamos numa, procuramos outra. Cada carreira
que abraçamos é uma fase, um período da vida. Não empregamos cada dia em
escolher o que faremos no outro?
Ora, o que são as diferentes existências corpóreas para o Espírito,
senão fases, períodos, dias da sua vida espírita que, como sabemos, é a
vida normal, não sendo a vida corpórea mais do que transitória,
passageira?
O Espírito poderia fazer a sua escolha durante a vida corporal?
— Seu desejo pode ter influência. Isso depende da intenção. Mas, no
estado de Espírito, freqüentemente vê as coisas de maneira diferente. É o
Espírito quem faz a escolha. Mas, ainda assim, ele pode fazê-la nesta
vida material, porque o Espírito tem sempre os momentos em que se
liberta da matéria.
. Muitas pessoas desejam grandezas e riquezas, mas não o será, por certo como expiação nem como prova?
— Sem dúvida; a matéria deseja essa grandeza, para gozá-la, e o Espírito a deseja para conhecer-lhe as vicissitudes.
. Até que chegue ao estado de perfeita pureza, o Espírito tem de passar constantemente por provas?
— Sim, mas elas não são como as entendeis. Chamais provas às
tribulações materiais; ora, o Espírito, chegando a um certo grau, mesmo
sem ser perfeito, não tem mais nada a sofrer. Mas tem sempre deveres que
o ajudam a se aperfeiçoar, e que não são penosos para ele, a não ser os
de ajudar os outros a se aperfeiçoarem.
. O Espírito pode enganar-se, quanto à eficácia da prova que escolher?
— Pode escolher uma que esteja acima de suas forças, e então sucumbe.
Pode também escolher uma que não lhe dê proveito algum, como um gênero
de vida ocioso e inútil. Mas, nesse caso, voltando ao mundo dos
Espíritos, percebe que nada ganhou , e pede para recuperar o tempo
perdido.
Ao que se devem as vocações de certas pessoas, e sua vontade de seguir uma carreira em vez de outra?
— Parece-me que podeis responder por vós mesmos a esta questão. Não é
a conseqüência de tudo o que dissemos sobre a escolha das provas sobre o
progresso realizado numa existência anterior?
. Quando o Espírito estuda, na erraticidade, as condições em que
poderá progredir, como julga poder fazê-lo se nascer entre canibais?
— Não são os Espíritos já adiantados que nascem entre os canibais,
mas os Espíritos da mesma natureza dos canibais, ou que lhe são
inferiores.
coisas parecidas? O homem que trabalha uma parte de sua vida, sem
tréguas nem descanso, a fim de ajuntar o necessário para o seu
bem-estar, não desempenha uma tarefa que se impôs, com vistas a um
futuro melhor? O militar que se oferece para uma missão perigosa, o
viajante que não enfrenta menores perigos, no interesse da ciência ou de
sua própria fortuna, não se submetem a provas voluntárias, que devem
proporcionar-lhe honra e proveito, se as vencerem? A que o homem não se
submete e não se expõe, pelo seu interesse ou pela sua glória? Todos os
concursos não são provas voluntárias para melhorar na carreira
escolhida? Não se chega a nenhuma posição social de elevada importância,
nas ciências, nas artes, na indústria, sem passar pela série de
posições inferiores, que são outras tantas provas. A vida humana é assim
o decalque da vida espiritual. Nela encontramos, em menor escala, todas
as peripécias daquela. Se na vida terrena escolhemos muitas vezes as
provas mais difíceis, com vistas a um fim mais elevado, por que o
Espírito, que vê mais longe, e para quem a vida do corpo é apenas um
incidente fugaz, não escolherá uma existência penosa e laboriosa, se ela
o deve conduzir a uma felicidade eterna? Aqueles que dizem que, se
pudessem escolher a sua existência, teriam pedido a de príncipes ou
milionários, são como os míopes que não vêem o que tocam, ou como as
crianças gulosas, que respondem, quando perguntamos que profissão
preferem: pasteleiros ou confeiteiros.
Da mesma maneira, o viajante, no fundo de um vale nevoento, não vê a
extensão nem os pontos extremos da sua rota; mas, chegando ao cume da
montanha, seu olhar abrange o caminho percorrido e o que falta a
percorrer, vê o final de sua viagem, os obstáculos que ainda tem de
vencer, e pode então escolher com mais segurança os meios de o atingir. O
Espírito encarnado é como o viajante no fundo do vale; desembaraçado
dos liames terrestres, é como o que atingiu o cume. Para o viajante, o
fim é o repouso após a fadiga; para o Espírito é a felicidade suprema,
após as tribulações e as provas.
Todos os Espíritos dizem que, no estado errante, buscam, estudam,
observam, para fazerem suas escolhas. Não temos um exemplo disso na vida
corpórea? Não buscamos muitas vezes, através dos anos, a carreira que
livremente acabamos por escolher, porque a achamos a mais apropriada aos
nossos objetivos? Se fracassamos numa, procuramos outra. Cada carreira
que abraçamos é uma fase, um período da vida. Não empregamos cada dia em
escolher o que faremos no outro?
Ora, o que são as diferentes existências corpóreas para o Espírito,
senão fases, períodos, dias da sua vida espírita que, como sabemos, é a
vida normal, não sendo a vida corpórea mais do que transitória,
passageira?
O Espírito poderia fazer a sua escolha durante a vida corporal?
— Seu desejo pode ter influência. Isso depende da intenção. Mas, no
estado de Espírito, freqüentemente vê as coisas de maneira diferente. É o
Espírito quem faz a escolha. Mas, ainda assim, ele pode fazê-la nesta
vida material, porque o Espírito tem sempre os momentos em que se
liberta da matéria.
. Muitas pessoas desejam grandezas e riquezas, mas não o será, por certo como expiação nem como prova?
— Sem dúvida; a matéria deseja essa grandeza, para gozá-la, e o Espírito a deseja para conhecer-lhe as vicissitudes.
. Até que chegue ao estado de perfeita pureza, o Espírito tem de passar constantemente por provas?
— Sim, mas elas não são como as entendeis. Chamais provas às
tribulações materiais; ora, o Espírito, chegando a um certo grau, mesmo
sem ser perfeito, não tem mais nada a sofrer. Mas tem sempre deveres que
o ajudam a se aperfeiçoar, e que não são penosos para ele, a não ser os
de ajudar os outros a se aperfeiçoarem.
. O Espírito pode enganar-se, quanto à eficácia da prova que escolher?
— Pode escolher uma que esteja acima de suas forças, e então sucumbe.
Pode também escolher uma que não lhe dê proveito algum, como um gênero
de vida ocioso e inútil. Mas, nesse caso, voltando ao mundo dos
Espíritos, percebe que nada ganhou , e pede para recuperar o tempo
perdido.
Ao que se devem as vocações de certas pessoas, e sua vontade de seguir uma carreira em vez de outra?
— Parece-me que podeis responder por vós mesmos a esta questão. Não é
a conseqüência de tudo o que dissemos sobre a escolha das provas sobre o
progresso realizado numa existência anterior?
. Quando o Espírito estuda, na erraticidade, as condições em que
poderá progredir, como julga poder fazê-lo se nascer entre canibais?
— Não são os Espíritos já adiantados que nascem entre os canibais,
mas os Espíritos da mesma natureza dos canibais, ou que lhe são
inferiores.
Sabemos que os nossos antropófagos
não estão no último grau da escala, e que há mundos onde o
embrutecimento e a ferocidade ultrapassam tudo que existe na Terra.
Esses Espíritos são, portanto, ainda inferiores aos mais inferiores do
nosso mundo, e vir para o meio dos nossos selvagens é para eles um
progresso, como seria um progresso para os nossos antropófagos exercer
entre nós uma profissão que os obrigasse a derramar sangue. Se eles não
visam ao mais alto, é porque a sua inferioridade moral não lhes permite
compreender um progresso mais completo. O Espírito não pode avançar
senão gradualmente; não deve transpor de um salto a distância que separa
a barbárie da civilização. E está nisso uma das necessidades da
reencarnação, que se mostra verdadeiramente de acordo com a justiça de
Deus. De outra maneira, em que se transformariam esses milhões de seres
que morrem diariamente no último estado de degradação, se não tivessem
meios de se elevar? Por que Deus os teria deserdado dos favores
concedidos aos demais?
. Os Espíritos procedentes de um mundo inferior à Terra, ou de um
povo muito atrasado, como os canibais, poderiam nascer entre os povos
civilizados?
— Sim, há os que se extraviam ao quererem subir muito alto, mas ficam
deslocados entre vós, porque têm hábitos e instintos que se chocam com
os vossos.
Esses seres nos dão o triste espetáculo da ferocidade em meio da
civilização. Retornando para o meio dos canibais, isso não será um
retrocesso, pois não farão mais do que retomar o seu lugar, e talvez
ainda com proveito.
. Um homem pertencente a uma raça civilizada poderia, por expiação, reencarnar-se numa raça selvagem?
— Sim, mas isso depende do gênero da expiação. Um senhor que tenha
sido duro para os seus escravos poderá tornar-se escravo e sofrer os
maus tratos que infligiu a outros. Aquele que mandou numa época, pode,
em outra existência, obedecer aos que se curvaram ante a sua vontade. É
uma expiação, se ele abusou do poder, e Deus pode determiná-la. Um bom
Espírito pode, para os fazer avançar, escolher uma vida de influência
entre esses povos. Então se trata de uma missão.
Copyright 2004 - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora
(Instituição Filantrópica)
Todos os Direitos Reservados
não estão no último grau da escala, e que há mundos onde o
embrutecimento e a ferocidade ultrapassam tudo que existe na Terra.
Esses Espíritos são, portanto, ainda inferiores aos mais inferiores do
nosso mundo, e vir para o meio dos nossos selvagens é para eles um
progresso, como seria um progresso para os nossos antropófagos exercer
entre nós uma profissão que os obrigasse a derramar sangue. Se eles não
visam ao mais alto, é porque a sua inferioridade moral não lhes permite
compreender um progresso mais completo. O Espírito não pode avançar
senão gradualmente; não deve transpor de um salto a distância que separa
a barbárie da civilização. E está nisso uma das necessidades da
reencarnação, que se mostra verdadeiramente de acordo com a justiça de
Deus. De outra maneira, em que se transformariam esses milhões de seres
que morrem diariamente no último estado de degradação, se não tivessem
meios de se elevar? Por que Deus os teria deserdado dos favores
concedidos aos demais?
. Os Espíritos procedentes de um mundo inferior à Terra, ou de um
povo muito atrasado, como os canibais, poderiam nascer entre os povos
civilizados?
— Sim, há os que se extraviam ao quererem subir muito alto, mas ficam
deslocados entre vós, porque têm hábitos e instintos que se chocam com
os vossos.
Esses seres nos dão o triste espetáculo da ferocidade em meio da
civilização. Retornando para o meio dos canibais, isso não será um
retrocesso, pois não farão mais do que retomar o seu lugar, e talvez
ainda com proveito.
. Um homem pertencente a uma raça civilizada poderia, por expiação, reencarnar-se numa raça selvagem?
— Sim, mas isso depende do gênero da expiação. Um senhor que tenha
sido duro para os seus escravos poderá tornar-se escravo e sofrer os
maus tratos que infligiu a outros. Aquele que mandou numa época, pode,
em outra existência, obedecer aos que se curvaram ante a sua vontade. É
uma expiação, se ele abusou do poder, e Deus pode determiná-la. Um bom
Espírito pode, para os fazer avançar, escolher uma vida de influência
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