Milhares de
Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho despersonalizado do
elemento individual valorizando o elemento coletivo identificado pelo
termo genérico "preto-velho". Muitos até dizem "nem tão preto e nem tão
velho" ainda assim "preto velho fulano de tal". A falta de informação é a
mãe do preconceito, e, no caso do "preto-velho", muitos que são leigos
da cultura religiosa Umbandista ou de origem africana desconhecem valor
do "preto-velho" dentro das mesmas. Preto é Cor e Negro é Raça, logo o
termo "preto-velho" torna-se característico e com sentido apenas dentro
de um contexto, já que fora de tal contexto o termo de uso amplo e
irrestrito seria "Negro Velho", "Negro Ancião" ou ainda "Negro de idade
avançada" para identificar o homem da raça negra que encontra-se já na
"terceira idade" (a melhor idade). Por conta disso alguns sentem-se
desconfortáveis em utilizar um termo que à primeira vista pode parecer
desrespeitoso ao citar um amável senhor negro, já com suas madeixas
brancas, cachimbo e sorriso fácil, por trás do olhar de homem sofrido,
que na humildade da subjugação forçada e escrava encontrou a liberdade
do espírito sobre a alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na
figura de nossos Orixás, vindo ao encontro da imagem e resignação de
nosso senhor Jesus Cristo.
Alguns preferem chamá-los apenas de
"Pais Velhos" o que é bonito ao ressaltar a paternidade, mas ao mesmo
tempo oculta a raça que no caso é motivo de orgulho. São eles que
souberam passar por uma vida de escravidão com honra e nobreza de
caráter, mais um motivo de orgulho em se auto-afirmar "nêgo véio" e
ex-escravo; talvez assim se mantenham para que nunca nos esqueçamos que
em qualquer situação temos ainda oportunidade de evoluir. Quanto mais
adversa maior a oportunidade de dar o testemunho de nossa fé. O
"preto-velho" é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da
filosofia umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos
se identificam e muitos outros que não foram escravos, nesta condição,
assim se apresentam também em homenagem a eles, por tê-los como Mestres
no astral. No imaginário popular, por falta de informação ou por má fé de alguns formadores de opinião, a imagem do "preto-velho" pode estar associada por alguns a uma visão preconceituosa, há ainda os que se assustam " com estas coisas" pois não sabem que a Umbanda é uma religião e como tal tem a única proposta de nos religar a Deus, manifestando o espírito para a caridade e desenvolvendo o sentimento de amor ao próximo. Não existe uma Umbanda "boa" e uma Umbanda "ruim", existe sim única e exclusivamente uma única Umbanda que faz o bem, caso contrário não é Umbanda e assim é com os "Preto-velhos", todos fazem o bem sem olhar a quem, caso contrário não é de fato um "preto-velho", pode ser alguém disfarçado de "velho-negro", o "preto velho" trabalha única e exclusivamente para a caridade espiritual. São espíritos que se apresentam desta forma e que sabem que em essência não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma experiência diferente. Os pretos velhos trazem consigo o "mistério ancião", pois não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda evolutiva.
Quanto menos valor se dá a forma, mais valor se dá à mensagem, e "preto-velho" fala devagar, bem baixinho; quando assim se pronuncia, todos se aquietam para ouví-lo, parece-nos ouvir na língua Yorubá a palavra "Atotô", saudação a Obaluayê que quer dizer exatamente isso: "silêncio". Nas culturas antigas o "velho" era sempre respeitado e ouvido como fonte viva do conhecimento ancestral. Hoje ainda vemos este costume nas culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições religiosas mantêm esta postura frente o sacerdote mais velho, trata-se de uma herança cultural religiosa tão antiga quanto nossa memória ou nossa história pode ir buscar, tão antigos também são alguns dos pretos velhos que se manifestam na Umbanda. Muitos já estão fora do ciclo reencarnacionista, estão libertos do karma, já desvendaram o manto da ilusão da carne que nos cobre com paixões e apegos que inexoravelmente ficarão para trás no caminho evolutivo. Por tudo isso e muito mais, no dia 13 de Maio, dia da libertação dos escravos eu os saúdo: "Salve os Pretos Velhos! Salve as Pretas Velhas! Adorei as Almas! Salve nosso Amado Pai Obaluayê, Atotô meu Pai! Salve nossa Amada Mãe Nanã Buroquê, Saluba Nana!"
Usamos para eles velas brancas ou bicolores, metade preta e metade branca, tomam café e fumam cachimbo.
Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada,
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.