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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

OFERENDAS NA UMBANDA





Com o intuito de esclarecer a necessidade das oferendas na Umbanda, comumente conhecidas como “comidas de santo”, gostaria de explicar nossa visão sobre o assunto sem, de forma alguma, determinar o que é certo ou errado e nem constranger quem quer que seja, em relação a este tema, que é tão particular e, neste caso, sugiro que o leitor siga as diretrizesdo dirigente ou dos guias espirituais do terreiro, tenda, centro, abassá, ilê, etc, do qual faz parte ou freqüenta.

Para entendermos melhor, sugiro uma reflexão, que nos leva ao passado.

No Velho Testamento da Bíblia, que entendo ser o livro de todas as raças, observamos que Abel, irmão de Caim, escolhia seus melhores frutos e os ofertava a Deus, numa simbologia de fé, amor e, acima de tudo, agradecimento pelos bons frutos colhidos. Importante observar, neste ponto, que o alimento é o que existe de mais sagrado.

Noé, após o dilúvio, ao chegar à terra firme, ergueu um altar de pedras e ofertou alimentos a Deus.

Devemos atentar aos ensinamentos envolvidos nesse processo, sim, é um processo ao qual nosso submetemos ao ofertar os diversos elementos naturais e elevarmos nossos pensamentos ao divino.

Na Umbanda não é diferente, fazemos nossas oferendas aos guias espirituais e aos orixás, para os mais diversos fins e motivos. Explicando melhor: os elementos nos são ofertados pela natureza e nós os ofertamos aos orixás e guias espirituais. É uma bela troca.

Poderemos, com isso, deduzir que, se alimentarmos os guias espirituais e orixás, obteremos tudo o que desejarmos?

É claro que não. Como já dissemos, na Umbanda, as oferendas são um processo. Um processo que se inicia na colheita e na escolha dos elementos. Nos dias de hoje, podemos dizer que o processo se inicia na compra dos elementos, passa pelo preparo e chega ao ato de entregar. A intenção da oferenda é uma premissa além dos sentimentos primordiais sentimentos de fé, amor e devoção depositados em todo o decorrer do processo. Percebam quanta energia há envolvida nesse processo.

É errado pensar que nossos guias espirituais se alimentam das oferendas, até porque estão em planos mais elevados, de onde extraem outros tipos de energia, de acordo com suas condições.

Devemos pensar, então que as oferendas são inúteis?

Não, as entidades e orixás utilizam a energia que impregna o processo de oferenda para revertê-la em nosso próprio benefício, ou no benefício de quem desejar, por meio de um processo conhecido como transmutação energética.

Transmutação energética é a troca de uma energia negativa por uma energia positiva. Um bom exemplo acontece quando as coisas não vão bem e fazemos uma oferenda para um orixá ou guia espiritual na esprança de que tudo aquilo que, naquele momento, está errado ou nos prejudica seja melhorado ou ajustado.

Esse processo, que transforma energia maléfica em energia benéfica, é o que  permite que os orixá e guias espirituais nos auxiliem.  São os subsídios que damos às divindades, para que elas nos auxiliem.

O processo da oferenda é muito mais amplo do que podemos imaginar. Aqui destacamos alguns pontos que podem a entendê-lo melhor.

Primeiramente, é fundamental entender o significado e a essência das comidas litúrgicas, também conhecidas como “comidas de santo”.

Como já sabemos, nossos guias não vão se alimentar dos alimentos e demais elementos que lhes forem ofertados.

Todo alimento tem vida, ou seja, tem axé. São extraídos da natureza, dos pontos de força dos orixás e guias espirituais. Há que acredite que eles moram nesses pontos de força, entre os quais, podemos citar as cachoeiras, as matas, os rios, os lagos, as montanhas, o mar, as pedreiras, os caminhos, as encruzilhadas, os cemitérios e por aí vai.

Como preparar uma oferenda?

Os primeiros ingredientes, aqueles que não podem faltar em nenhuma oferenda são fé e amor, desde a colheita, escolha ou compra dos  ingredientes, o preparo até a entrega em um ponto de força da natureza de todos os elementos a serem ofertados.

Um bom banho de folhas é um princípio fundamental, pois imprescindível  estar limpo de corpo e alma para oferecer algo ao divino.

Vestir-se de branco demonstra respeito e ajuda no processo da oferenda.

Tudo isso é importante porque os guias e orixás fazem uso da nossa fé e do nosso amor para  retribuir com sua energia vital, o axé.

No processo de oferenda, não pode jamais faltar concentração, oração e intenção.

Cânticos ou pontos das entidades são a mais pura essência desse processo, este gesto cria uma sintonia entre os plano material e o plano espiritual.

Quais elementos devem ser usados numa oferenda?

Os alimentos devem ser frescos, recomenda-se colher ao invés de comprar e os elementos devem ser  os mais naturais que se possa conseguir. O ideal é cozinhar em panelas de ferro, fogão a lenha e utilizar colheres de pau e pilão para triturar os alimentos. Ervas secas, nem pensar. Devem-se evitar alimentos industrializados. Quanto maior o uso de produtos extraídos da natureza, maior é a energia em volta do preparo. Isso, sem falar do aroma e do sabor que encantam.

Além desses critérios, é fundamental o conhecimento das propriedades espirituais e energéticas de cada elemento ou ingrediente da oferenda, bem como a associação particular a cada orixá, guia espiritual ou intenção.

Como já mencionado, recomenda-se seguir as diretrizes do dirigente espiritual ( Pai ou Mãe de Santo, Ìva ou Babalorixá) ou guia espiritual. Um bom exemplo são dirigentes de terreiros que não servem alguns tipos de elementos, como carne, ovos, mel cachaça, entre outros, para determinados orixás. Dessa maneira, repito, antes de fazer uma oferenda, consulte sempre um dirigente ou guia espiritual de sua confiança.

Foi assim que nasceu o complexo e milenar código da vasta e diversificada “comida de santo”.

O segredo que envolve a preparação está ligado à preservação da energia contida na oferenda. Para não correr o risco da interferência dos pensamentos ou da absorção de alguma força indesejada, os alimentos, depois de prontos, são imediatamente cobertos por uma toalha branca, que os protegerá também de sujeira eventuais. Essa toalha só é retirada no momento da apresentação da oferenda aos pés da divindade. O momento em que a comida  sacralizada é oferecida representa amor, respeito e carinho e devoção ao orixá ou guia espiritual.

Outro ponto importante é que as receitas das oferendas não ter sua quantidades alteradas nem elementos substituídos. Vale lembrar que a diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem, ou seja, tudo na medida exata, conforme descrito pelo guia espiritual ou dirigente de sua confiança.

E se eu sonhar com uma oferenda?

Volto a repetir: sempre, antes de fazer uma oferenda, é necessário consultar um dirigente ou guia espiritual.

Onde devo entregar uma oferenda?

Sabemos que a natureza possui diversos pontos de força e cada orixá, bem como cada guia espiritual tem o seu.

Esses pontos de força funcionam como verdadeiros chacras do nosso planeta, que sintonizam com as forças de Deus, ou tronos de Deus, como descrevem alguns autores, e irradiam a essência da energia divina, promovendo, desta maneira, equilíbrio ao nosso planeta e aos seres que aqui habitam.

Além de conhecer os ingredientes e elementos de uma oferenda, faz-se necessário o conhecimento dos pontos de força da natureza  e suas vibrações ou emanações energéticas.

Também é necessário conhecer a intenção da oferenda. Insisto que toda oferenda deve ser indicada ou orientada por um dirigente ou guia espiritual de sua confiança.

Assim como o local, deve-se também atentar para as fase da lua, com relação à intenção da oferenda, além de datas, horário e condições do tempo.

Apenas um pedido: NÃO AGRIDA A NATUREZA

A Umbanda é uma religião que ama os orixás e seus guias espirituais.

Conforme já foi visto, a natureza  é a congregação de todos os pontos de maior concentração energética, que se ligam às forças divinas.

Partindo dessa premissa, não existe lógica nossos irmãos ao se dirigirem a uma mata, por exemplo, para fazer um oferenda e lá deixarem ou “esquecerem” garrafas, panos, copos entre outros objetos.

Devemos  sempre lembrar  que degradar a natureza desperta a fúria dos orixás, ou ainda, reverte toda e qualquer boa intenção no processo da oferenda, além de denegrir a moral da religião.

Ao invés de depositar a oferenda em cestos de vime, panos de cetim, pratos de louça ou de barro, devem-se utilizar folhas do próprio ambiente onde se estiver.

Uma boa dica é utilizar folhas de bananeira, chapéu-de-couro, eucalipto, bambu, mamona ou algum outro que se encontre ao redor.

De tudo isso, o que concluímos?

Uma oferenda é composta de FÉ, AMOR, DOAÇÃO, MAGIA, ELEMENTOS, ORAÇÃO, CONHECIMENTO, INTENÇÃO E AÇÃO.

A ação consiste no ato da entrega, propriamente dita, no ponto de força.

Ofertar a esmo não é AXÉ, é desequilíbrio.

Com este texto, espero ter contribuído, para a verdadeira compreensão para esse tema tão importante em nossa religião.

Pai Hector de Oxalá, do Terreiro de Umbanda Àwúre Oxalá

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