ABRA SUA MENTE



Fecha teus olhos,abre tua mente e teu coração para a Verdade ...,porque

Ela pode ser invisível aos olhos humanos.Mas não aos olhos da sua consciência







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sábado, 25 de maio de 2013

FLORESCER NA COMPAIXÃO



 
 
"Sempre que você medita, você se sente bem-aventurado; sempre que sente compaixão, fica em êxtase. Então surge a gratidão, não dirigida a ninguém em particular; a gratidão simplesmente surge. Ela não é dirigida a mim ou a Jesus, ou a Zaratustra, ou a Buda.
Ela é simplesmente gratidão.

Você se sente grato apenas por estar aqui, apenas por estar vivo, apenas por ser capaz de meditar, apenas por ser capaz de sentir compaixão.
Você simplesmente se sente grato.
Essa gratidão não se dirige a ninguém, mas sim, ao Todo.

Se você se sente grato em relação a mim, então é uma gratidão da mente. Se você meditar e florescer na compaixão, simplesmente se sentirá grato, mas não em relação a mim, e sim, em relação a Tudo.
E quando você se sentir grato em relação a tudo, então será realmente uma gratidão para comigo, para Buda, para Jesus, para Zaratustra, nunca antes.

Quando há uma escolha, e você me escolhe, então o seu mestre torna-se um ponto e não o todo. É isso o que acontece em toda parte.
Os discípulos se apegam ao mestre e os mestres ajudam os discípulos a se apegares. Isso não é bom; é feio.

Quando você realmente floresce, então seu perfume não é dirigido a ninguém; quando você realmente floresce o perfume se espalha em todas as direções. E qualquer um que passe perto de você, sentirá a sua fragrância e a levará consigo.
Se ninguém passar por você, então, nesse caminho solitários e silencioso sua fragrância continuará se espalhando, sem estar endereçada a ninguém.

Lembre-se: a mente sempre tem um endereço; o Ser não tem endereço.
A mente está sempre se movendo em direção a alguma coisa; o Ser simplesmente se move em direção a Tudo. É um movimento sem meta alguma;

A meta existe por causa do motivo. Você se move para alguma coisa por causa do desejo. Quando não há desejo, como você pode se mover?
O movimento existe, mas não a motivação. Então você se move em todas as direções. Então, você se derrama, transborda.

Então, seu mestre está em toda parte. Então eu estou em toda parte. E só quando chega esse momento é que você fica livre do mestre também. Então, você está livre de todos os relacionamentos, de todos os limites. E se um mestre não pode libertar você dele próprio, então ele não é absolutamente um mestre.

Portanto, você não precisa fazer nada por mim. Faça alguma coisa por você.
Meditação, compaixão - isso também será por mim. Então, você sentirá a minha presença não pela mente.

Agora, você pensa e sente: O que podemos fazer por Osho?
Isso é mente. (...)

Uma coisa você pode fazer por mim - abandonar essa mente. Permita que o seu ser floresça.
Então, você terá uma fragrância.
Então, o Todo ficará feliz, em todas as dimensões e direções.
Você estará sempre em êxtase, e sua gratidão não será limitada.
Não será dirigida a um ponto, e sim, a Tudo por toda parte.
Só então, chegará à verdadeira prece.
Essa gratidão é prece. (...)

Quando depois da compaixão surge a gratidão, a existência toda se torna um templo. Tudo o que você toca faz tornar-se uma prece.
Não pode ser de outra forma.
Profundamente enraizado na meditação, profundamente fluindo na compaixão, você não pode ser de outra forma. Você se torna uma prece; você se torna gratidão.

Mas lembre-se: a mente sempre tem um endereço. Ela tem meta, um desejo a realizar. 
O Ser não tem endereço. Não tem meta. Não tem nada a atingir.

O reino do Ser há foi alcançado e o imperador já está no trono.
Você se move porque o movimento é vida, mas não se move para nenhuma meta.
Quando não há meta, não há tensão. Então o movimento é belo e gracioso."
Osho em Raízes e Asas.

VIDA É AGORA

 

 
"A mente humana como tal não consegue existir no presente. A menos que você vá além da mente, vai continuar sonhando acordado. A mente só pode existir no passado ou no futuro, não há com a mente existir no presente. Estar no presente é estar sem mente.

Experimente! Se houver um momento silencioso em que nenhum pensamento esteja passando por sua mente, quando a tela da consciência está absolutamente limpa, então de repente você está no presente. Esse é o momento, o momento de realidade, o momento da verdade. Mas então não há passado nem futuro.
Em geral, o tempo é dividido nestes três tempos: passado, presente e futuro. A divisão é basicamente errada, não científica... porque o presente não é parte do tempo. Só o passado e o futuro são partes do tempo. O presente está além do tempo. O presente é a eternidade.

O passado e futuro são partes do tempo. O passado é aquilo que não existe mais, o futuro é o que ainda não existe. Ambos são não-existenciais. O presente é o que existe. O existencial não pode ser uma parte do não-existencial. Eles nunca se cruzam. E o tempo é a mente. A sua mente é o passado acumulado.

Analise a sua mente, investigue-a. O que ela é? Apenas suas memórias, suas experiências passadas acumuladas. Sua mente é apenas um termo geral, um termo abrangente; ela simplesmente guarda, retém, todo o seu passado. Não é nada além disso. Se pouco a pouco você tirar o seu passado do saco, o saco desaparecerá.
Se o passado é a única realidade da mente, então o que a mente faz? Uma possibilidade é que ela fique ruminando e ruminando o passado sem parar. É o que você pode chamar de memória, de lembrança, de nostalgia. Você vai repetidas vezes para trás; repetidas vezes até os momentos passados, belos momentos, momentos felizes. Eles são poucos e raros, mas você se apega a eles. Você pode evitar os momentos feios e infelizes.
Mas você não pode ir para trás continuamente porque é inútil; a atividade parece não ter sentido, então, a mente cria uma atividade "significativa" - sonhar acordado com o futuro.

A mente diz: "Sim, o passado é bom, mas ele acabou; nada pode ser feito a respeito. Algo pode ser feito sobre o futuro, porque ele ainda vai chega". Então, você escolhe entre suas experiências passadas aquelas que você gostaria de repetir novamente e abandona as experiências que foram infelizes, dolorosas, as que você não quer repetir no futuro.

Seus sonhos sobre o futuro não são nada mais do que o seu passado modificado, mais bem arranjado, mais decorado, mais agradável,, menos doloroso, mais gratificante. É que sua mente continua fazendo, e dessa maneira você continua bem distante da realidade.

Meditação significa simplesmente alguns momentos em que você não está
na mente. Você desliza para a realidade, para aquilo que existe. Esses momentos existenciais são tão extremamente extáticos que, quando você os experimenta, vai parar de sonhar acordado. ( ...)

Torne-se um pouco mais consciente e tente trazer uma consciência cada vez mais para a realidade da vida, da existência. 
Veja esta flor, não pense mais sobre aquela flor. Escute esta palavra que ainda estou falando agora, não aquela palavra que ainda vou falar. Olhe de imediato. Se você adiar ainda que por um único e breve momento, vai perder a oportunidade. E então isso se torna um hábito, um hábito arraigado em você.(...)

A Vida é aqui e agora! A Vida é aqui e Deus é Agora!
Se você estiver buscando em seus devaneios, sua busca será em vão,, porque o paraíso nada mais é que um profundo contentamento.

A mente prossegue dizendo a você: "Faça isso, seja aquilo. Possua isso, possua aquilo... Como poderá ser feliz se não tiver isto?" (...)
Se a sua felicidade for condicionada a isso você continuará infeliz. Se não conseguir ser feliz como é, não será feliz nunca.
A menos que seja feliz simplesmente feliz sem razão alguma, a menos que seja suficientemente louco para ser feliz sem qualquer razão, não será feliz nunca. Sempre encontrará algo destruindo a sua felicidade. Sempre achará que existe algo faltando, e isso que está faltando se tornará novamente um devaneio da mente."
Osho em Fama, fortuna e ambição.

EU APRENDI

ORAÇÃO DO AGRADECIMENTO

CURA DA INSÔNIA



“Apenas me deito, logo adormeço em paz, porque a segurança de meu repouso vem de Vós só, Senhor.” (Sl 4,9).

Senhor, Deus e Pai de misericórdia, em nome de Vosso Filho Nosso Senhor Jesus, venho vos pedir a restauração de todo
meu ser, de minha integridade física e espiritual, e a libertação emocional e afetiva que tanto preciso....

Só Vós conheceis o mais íntimo de mim e quando esta insônia começou.

Vós
podeis, pela graça de Vosso Santo Espírito, atingir as causas mais
profundas desta insônia e das perturbações que tenho durante o sono.

Liberta-me das conseqüências deste mal, curando-me o cansaço, a insegurança, o medo e a tristeza, restaurando-me física,

emocional
e espiritualmente, como vosso (a) filho (a) que sou, para que eu possa
Vos amar sempre mais e Vos servir com alegria cada dia de minha vida.

Obrigado, Pai!

Pai-Nosso, Glória-ao-Pai.

O MUNDO É COMO UM ESPELHO

O BUSCADOR ESPIRITUAL/OSHO

 

"Osho, me diga o que significa ser um buscador espiritual? 

Em primeiro lugar, significa duas coisas. Uma, que a vida tal como é conhecida exteriormente não é completa; a vida tal como é conhecida de fora não tem sentido.


No momento em que alguém se torna alerta para o fato de que toda essa vida é uma coisa sem sentido, a busca se inicia.
Essa é a parte negativa, mas a não ser que essa parte negativa esteja presente, a positiva não pode vir.

A busca espiritual significa, em primeiro lugar, um sentimento negativo: um sentimento de que a vida, tal como ela é, não tem sentido.

Todo o processo acaba na morte: pó sobre pó. Nada permanece conclusivo em si mesmo. Você passa
pela vida em tal agonia, em tamanho inferno, e nada conclusivo é alcançado.

Esse é o lado negativo da busca espiritual. 
A própria vida o auxilia a chegar a ele. Esse lado — essa negatividade, essa angústia, essa frustração — é a parte que o mundo está fazendo.

Quando você se torna realmente alerta para o fato da insignificância da vida tal como é vivida, sua busca comumente começa, porque você não pode ficar tranquilo com uma vida sem sentido.

Com uma vida sem sentido, um abismo é criado entre você e tudo o que a vida é. Uma brecha intransponível cresce, tornando-se mais e mais larga. Você se sente desamparado.


Então, a busca por alguma coisa significativa, feliz, é iniciada. Essa é a segunda parte, a parte positiva.
Busca espiritual significa chegar a um acordo com a realidade atual, não com uma projeção sonhadora. Toda a nossa vida é apenas uma projeção, sonhos projetados. 

Ela não existe para conhecer o que é; existe para se obter o que é desejado.
Você pode tomar a palavra "desejo" como um símbolo do que nós chamamos de vida. 


A vida é uma projeção dos desejos: você não está à procura do que é; está à procura do que é desejado.

Você continua desejando e a vida continua sendo frustrante porque ela é como é. Ela não pode ser como você quer. Você fica desiludido. Não porque a realidade seja antagônica a você, mas sim porque você não está em sintonia com a realidade, apenas com seus sonhos.


Seus sonhos têm uma desilusão que o arruínam. Enquanto você está sonhando, tudo está certo; mas quando qualquer sonho é alcançado, tudo se torna desilusão.

Busca espiritual significa conhecer essa parte negativa: esse desejar é a raiz causal da frustração.
Desejar é criar um inferno por livre e espontânea vontade. Desejar é estar no mundo: ser mundano é desejar e continuar desejando, sem nunca tornar-se alerta de que cada desejo não dá em nada além de frustrações. Uma vez que você se torna alerta para isso, então não mais deseja.
Ou seu único desejo é conhecer o que realmente é. Nesse momento, você decide: "Não continuarei projetando a mim mesmo, conhecerei o que é. Não porque devo ser desse modo e a realidade deva ser daquele outro modo, mas apenas por isto: quero conhecer a realidade seja ela qual for — nua como ela é. Não projetarei, não entrarei nisso. Quero encontrar a vida como ela é".
Positivamente, busca espiritual significa encontrar a existência tal como ela é, sem qualquer desejo. No momento em que não houver nenhum desejo, o mecanismo de projeção não estará mais funcionando. Então, você poderá ver o que é.
Uma vez conhecido, este "o que é" — aquele que é — lhe dará tudo.

O desejo sempre promete e nunca dá. 
Os desejos sempre prometem felicidade, êxtase, mas isso nunca vem. Cada desejo dá em troca apenas mais desejos. Cada desejo cria em seu lugar apenas desejos ainda maiores e mais frustrantes.

Uma mente não-desejosa é aquela que está engajada na busca espiritual. 
Um buscador espiritual é aquele que está completamente alerta para o absurdo do desejo e está pronto para conhecer o que é.

Quando a pessoa está pronta para conhecer o que é, a realidade aparece por todos os cantos, por todos os lados.

Mas você nunca está presente. Você está em seus desejos, no futuro. 

A realidade está sempre no presente — aqui e agora —, mas você nunca está no presente. Está sempre no futuro: nos desejos, nos sonhos. 

Você está adormecido nos seus sonhos, nos seus desejos. E a realidade está aqui e agora.
Quando esse sonho for interrompido e você estiver acordado para a realidade que está aqui e agora, no presente, haverá um renascimento. 
Você chegará ao êxtase, à satisfação, a tudo o que sempre foi desejado e nunca alcançado."
Osho, em Eu Sou a Porta

SEJA

 

 


"Investigando a mente, é possível dar-se conta de algo que está além dela.
Porém, aqui deve nascer o verdadeiro Você, pois somente o verdadeiro Você pode ver o que está além da mente.
A mente não pode ir além dela mesma.

Muitas coisas não terão sentido lógico no que apresento, principalmente porque a mente quer chegar a conclusões.
Ela sempre quer encaixar as peças, e, pior, tenta conter o Ser.
Mas há fugacidade – ele nunca será controlado pela mente.

É por isso que é tão raro que alguém “Seja”.
A maioria das pessoas está no “ter” e não no “ser”.
Elas “têm” a si mesmo, elas têm profissões, ideias, percepções, experiências...
Elas não “são”! Elas têm, têm e têm.

O mundo é regido pela cartilha do acúmulo.
Quanto mais experiências e conhecimento você tem, mais você é, porque ter é poder.
Para o mundo, saber é poder.
Ou você já ouviu dizer que “Ser é poder”?
Eu nunca ouvi.
O Ser não quer poder nada, ele já está resolvido, está em paz.
E é por isso que estamos aqui.
Para reencontrar esse lugar que já está pacificado, que é o seu lar.
Seja!"
Satyaprem em Satsang

MEDITAÇÃO




























 

                                                                    
 
A Meditação Transcendental (MT) 
é uma técnica natural, muito fácil de aprender 
e praticar que não se utiliza de concentração 
nem esforço de qualquer espécie para funcionar. 
Quando praticada duas vezes ao dia por 15 a 20 minutos tem o efeito de reduzir o stress e melhorar a qualidade de vida da pessoa.

Os benefícios da prática regular da MT incluem melhorias no uso da capacidade mental, na saúde física, na estabilidade emocional e no ambiente de quem a pratica.

Em resumo, esses benefícios podem incluir:
- melhor uso das funções mentais como memória, raciocínio, clareza de pensamento, maior criatividade e uso da inteligência.
- melhor saúde, menos stress, mais energia e bem-estar, rejuvenescimento.
- maior equilíbrio emocional, maior auto-estima, relações pessoais mais positivas, maior realização.
- maior produtividade e melhores relações profissionais.
- maior habilidade em criar um ambiente saudável e equilibrado.

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O que acontece durante a prática da Meditação Transcendental?

Durante a prática da Meditação Transcendental a pessoa tem a experiência 
bastante agradável da redução espontânea da sua atividade mental, enquanto se torna cada vez mais desperta. Em alguns momentos essa experiência atinge seu nível máximo de estar 
completamente desperta e em repouso total.
Efeitos da prática da Meditação Transcendental

Com a prática regular desta técnica, essa experiência de repouso desperto aumenta gradativamente durante as atividades práticas. Assim, na vida prática, a pessoa se torna mais desperta, silenciosa e criativa, a inteligência é melhor utilizada, a mente se torna mais clara e mais rápida e todas as funções mentais melhoram.

Além disso, esse profundo repouso mental adquirido causa um profundo descanso físico. 
Esse repouso, por ser mais profundo do que o sono da noite, é capaz de ajudar a eliminar o stress e tensões profundos do sistema nervoso. 
Como as tensões e estresses são causas freqüentes de muitos problemas de saúde, a MT auxilia grandemente na melhoria da saúde física, gerando maior bem-estar físico, mais energia para gastar nas atividades práticas e até mesmo rejuvenescimento, redução da insônia, dos males cardíacos e muitos outros problemas.
Na dimensão emocional, a experiência regular do repouso desperto obtido durante a MT pode melhorar sensivelmente a área emocional. As tensões geradas pelas atividades diárias são reduzidas, as emoções se estabilizam e em muitos casos há diminuição de irritabilidade, de intolerância, de fobias e 
aumento de auto-estima e sensação de bem-estar pessoal.







JESUS GUIA E MODELO DA HUMANIDADE

 
O Livro dos Espíritos_Allan Kardec

621 Onde está escrita a lei de Deus?

Na consciência.

625 Qual é o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?

Vede Jesus.

886 Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade como a entendia Jesus?

Benevolência com todos, indulgência com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.

*O
amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao
próximo é fazer todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos
que nos fosse feito. Esse é o sentido das palavras de Jesus:

“Amai-vos uns aos outros como irmãos”.

A
caridade, para Jesus, não se limita à esmola. Ela abrange todas as
relações com nossos semelhantes, sejam inferiores, iguais ou superiores.
Ensina a indulgência, porque temos necessidade dela, e não nos permite
humilhar os outros, ao contrário do que muitas vezes se faz.

Se
uma pessoa rica nos procura, temos por ela mil atenções, mil
amabilidades; se é pobre, parece não haver necessidade de nos incomodar.
Porém, quanto mais lastimável sua posição, mais se deve respeitar, sem
nunca aumentar sua infelicidade pela humilhação.

O homem verdadeiramente bom, procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.


1018 Em que sentido é preciso entender estas palavras do Cristo:

“Meu reino não é deste mundo?”

O Cristo, ao responder assim, falava num sentido figurado.

Ele queria dizer que apenas reina nos corações puros e desinteressados.

Ele
está por todos os lugares onde domina o amor ao bem, mas os homens
ávidos das coisas deste mundo e ligados aos bens da Terra, não estão com
Ele.

O HOMEM DURANTE A VIDA TERRENA

 
116. Como e em que momento se opera a união da alma ao corpo?
Desde a concepção, o Espírito, ainda que errante, está, por um cordão fluídico, preso ao corpo com o qual se deve unir. Este laço se estreita cada vez mais, à medida que o corpo se vai desenvolvendo. Desde esse momento, o Espírito sente uma perturbação que cresce sempre; ao aproximar-se do nascimento, ocasião em que ela se torna completa, o Espírito perde a consciência de si e não recobra as idéias senão gradualmente, a partir do momento em que a criança começa a respirar; a união então é completa e definitiva.
117. Qual o estado intelectual da alma da criança no momento de nascer?
Seu estado intelectual e moral é o que tinha antes da união ao corpo, isto é, a alma possui todas as idéias anteriormente adquiridas; mas, em razão da perturbação que acompanha a mudança de estado, suas idéias se acham momentaneamente em estado latente. Elas se vão esclarecendo aos poucos, mas não se podem manifestar senão proporcionalmente ao desenvolvimento dos órgãos.
118. Qual a origem das idéias inatas, das disposições precoces, das aptidões instintivas para uma arte ou ciência, abstração feita da instrução?
As idéias inatas não podem ter senão duas fontes: a criação das almas mais perfeitas umas que as outras, no caso de serem criadas ao mesmo tempo que o corpo, ou um progresso por elas adquirido anteriormente à encarnação.
Sendo a primeira hipótese incompatível com a justiça de Deus, só fica de pé a segunda.
As idéias inatas são o resultado dos conhecimentos adquiridos nas existências anteriores, são idéias que se conservaram no estado de intuição, para servirem de base à aquisição de outras novas.
119. Como se podem revelar gênios nas classes da sociedade inteiramente privadas de cultura intelectual?
É um fato que prova serem as idéias inatas Independentes do meio em que o homem foi educado, O ambiente e a educação desenvolvem as idéias inatas, mas não no-las podem dar. O homem de gênio é a encarnação de um Espírito adiantado que muito houvera já progredido. A educação pode fornecer a instrução que falta, mas não o gênio, quando este não exista.
120. Por que encontramos crianças instintivamente boas em um meio perverso, apesar dos maus exemplos que colhem, ao passo que outras são instintivamente viciosas em um meio bom, apesar dos bons conselhos que recebem?
É o resultado do progresso moral adquirido, como as idéias inatas são o resultado do progresso intelectual.
121. Por que de dois filhos do mesmo pai, educados nas mesmas condições, um é às vezes inteligente e o outro estúpido, um bom e o outro mau? Por que o filho de um homem de gênio é, algumas vezes, um tolo, e o de um tolo, um homem de gênio?
É um fato esse que vem em abono da origem das idéias inatas; prova, além disso, que a alma do filho não procede, de sorte alguma, da dos pais; se assim não fosse, em virtude do axioma que a parte é da mesma natureza que o todo, os pais transmitiriam aos filhos as suas qualidades e defeitos próprios, como lhes transmitem o princípio das qualidades corporais. Na geração, somente o
corpo procede do corpo, mas as almas são independentes umas das outras.
122. Se as almas são independentes umas das outras, donde vem o amor dos pais pelos filhos e o destes por aqueles?
Os Espíritos se ligam por simpatia, e o nascimento em tal ou tal família não é um efeito do acaso, mas depende muitas vezes da escolha feita pelo Espírito, que vem juntar-se àqueles a quem amou no mundo espiritual ou em suas precedentes existências. Por outro lado, os pais têm por missão ajudar o progresso dos Espíritos que encarnam como seus filhos, e, para excitá-los a isso, Deus lhes inspira uma afeição mútua; muitos, porém, faltam a essa missão, sendo por isso punidos. (O Livro dos Espíritos, nº 379, Da infância.)
123. Por que há maus pais e maus filhos?
São Espíritos que não se ligaram na mesma família por simpatia, mas com o fim de servirem de instrumentos de provas uns aos outros e, muitas vezes, para punição do que foram em existência anterior; a um é dado um mau filho, porque também ele o foi; a outro, um mau pai, pelo mesmo motivo, a fim de que sofram a pena de talião. (Revue Spirite, 1861, pág. 270: La Peine du talion.) 

124. Por que encontramos em certas pessoas, nascidas em condição servil, instintos de dignidade e grandeza, enquanto outras, nascidas nas classes superiores, só apresentam instintos de baixeza?
É uma reminiscência intuitiva da posição social que o Espírito já ocupou, e do seu caráter na existência precedente.
125. Qual a causa das simpatias e antipatias que se manifestam entre pessoas que se vêem pela primeira vez?
São quase sempre entes que se conheceram e, algumas vezes, se amaram em uma existência anterior, e que, encontrando-se nesta, são atraídos um para o outro. As antipatias instintivas provêm também, muitas vezes, de relações anteriores.
Esses dois sentimentos podem ainda ter uma outra causa, O perispírito irradia ao redor do corpo, formando uma espécie de atmosfera impregnada das qualidades boas ou más do Espírito encarnado. Duas pessoas que se encontram, experimentam, pelo contacto desses fluidos, a impressão sensitiva, impressão que pode ser agradável ou desagradável; os fluidos tendem a confundir-se ou a repelir-se, segundo sua natureza semelhante ou dessemelhante. Ë assim que se pode explicar o fenômeno da transmissão de pensamento. Pelo contacto desses fluidos, duas almas, de algum modo, lêem uma na outra; elas se adivinham e compreendem, sem se falarem.
126. Por que não conserva o homem a lembrança de suas anteriores existências? Não será ela necessária ao seu progresso futuro? (Vede a parte que trata do Esquecimento do passado).
Esquecimento do passado:
V. — Não consigo explicar a mim mesmo como pode o homem aproveitar da experiência adquirida em suas anteriores existências, quando não se lembra delas, pois que, desde que lhe falta essa reminiscência, cada existência é para ele qual se fora a primeira; deste modo, está sempre a recomeçar.
Suponhamos que cada dia, ao despertar, perdemos a memória de tudo quanto fizemos no dia anterior; quando chegássemos aos setenta anos, não estaríamos mais adiantados do que aos dez; ao passo que recordando as nossas faltas, inaptidões e punições que disso nos provieram, esforçar-nos-emos por evitá-las.
Para me servir da comparação que fizestes do homem, na Terra, com o aluno de um colégio, eu não compreendo como este poderia aproveitar as lições da quarta classe, não se lembrando do que aprendeu na anterior.
Essas soluções de continuidade na vida do Espírito interrompem todas as relações e fazem dele, de alguma sorte, uma entidade nova; do que podemos concluir que os nossos pensamentos morrem com cada uma das nossas existências, para renascer em outra, sem consciência do que fomos; é uma espécie de aniquilamento.
A. K. — De pergunta em pergunta, levar-me-eis a fazer um curso completo de Espiritismo; todas as objeções que apresentais são naturais em quem ainda nada conhece, mas que, mediante estudo sério, pode encontrar-lhes respostas muito mais explícitas do que as que posso dar em sumária explicação que, por certo, deve sempre ir provocando novas questões.
Tudo se encadeia no Espiritismo, e, quando se toma o conjunto, vê-se que seus princípios emanam uns dos outros, servindo-se mutuamente de apoio; e, então, o que parecia uma anomalia, contrária à justiça e à sabedoria de Deus, se torna natural e vem confirmar essa justiça e essa sabedoria. Tal é o problema do esquecimento do passado, que se prende a outras questões de não menor importância e, por isso, não farei aqui senão tocar levemente o assunto.
Se em cada uma de suas existências um véu esconde o passado do Espírito, com isso nada perde ele das suas aquisições, apenas esquece o modo por que as conquistou.
Servindo-me ainda da comparação supra com o aluno, direi que pouco importa saber onde, como, com que professores ele estudou as matérias de uma classe, uma vez que as saiba, quando passa para a classe seguinte. Se os castigos o tornaram laborioso e dócil, que lhe importa saber quando foi castigado por preguiçoso e insubordinado?
É assim que, reencarnando, o homem traz por intuição e como idéias inatas, o que adquiriu em ciência e moralidade. Digo em moralidade porque, se no curso de uma existência ele se melhorou, se soube tirar proveito das lições da experiência, se tornará melhor quando voltar; seu Espírito, amadurecido na escola do sofrimento e do trabalho, terá mais firmeza; longe de ter de recomeçar tudo, ele possui um fundo que vai sempre crescendo e sobre o qual se apóia para fazer maiores conquistas.
A segunda parte da vossa objeção, relativa ao aniquilamento do pensamento, não tem base mais segura, porque esse olvido só se dá durante a vida corporal; uma vez terminada ela, o Espírito recobra a lembrança do seu passado; então poderá julgar do caminho que seguiu e do que lhe resta ainda fazer; de modo que não há essa solução de continuidade em sua vida espiritual, que é a vida normal do Espírito. Esse esquecimento temporário é um benefício da Providência; a experiência só se adquire, muitas vezes, por provas rudes e terríveis expiações, cuja recordação seria muito penosa e viria aumentar as angústias e tribulações da vida presente.
Se os sofrimentos da vida parecem longos, que seria se a ele se juntasse a lembrança do passado?
Vós, por exemplo, meu amigo, sois hoje um homem de bem, mas talvez devais isso aos rudes castigos que recebestes pelos malefícios que hoje vos repugnariam à consciência; ser-vos-ia agradável a lembrança de ter sido outrora enforcado por vossa maldade? Não vos perseguiria a vergonha de saber que o mundo não ignorava o mal que tínheis feito? Que vos importa o que fizestes e o que sofrestes para expiar, quando hoje sois um homem estimável? Aos olhos do mundo, sois um homem novo, e aos olhos de Deus um Espírito reabilitado. Livre da reminiscência de um passado importuno, viveis com mais liberdade; é para vós um novo ponto de partida; vossas dívidas anteriores estão pagas, cumprindo-vos ter cuidado de não contrair outras.
Quantos homens desejariam assim poder, durante a vida, lançar um véu sobre os seus primeiros anos! Quantos, ao chegar ao termo de sua carreira, não têm dito: “Se eu tivesse de recomeçar, não faria mais o que fiz!” Pois bem, o que eles não podem fazer nesta mesma
vida, fá-lo-ão em outra; em uma nova existência, seu Espírito trará, em estado de intuição, as boas resoluções que tiver tomado. É assim que se efetua gradualmente o progresso da humanidade.
Suponhamos ainda — o que é um caso muito comum — que, em vossas relações, em vossa família mesmo se encontre um indivíduo que vos deu outrora muitos motivos de queixa, que talvez vos arruinou, ou desonrou em outra existência, e que, Espírito arrependido, veio encarnar-se em vosso meio, ligar-se a vós pelos laços de família, a fim de reparar suas faltas para convosco, por
seu devotamento e afeição; não vos acharíeis mutuamente na mais embaraçosa posição, se ambos vos lembrásseis de vossas passadas inimizades? Em vez de se extinguirem, os ódios se eternizariam.
Disso resulta que a reminiscência do passado perturbaria as relações sociais e seria um tropeço ao progresso. Quereis uma prova?
Supondo que um indivíduo condenado às galés tome a firme resolução de tomar-se um homem de bem, que acontece quando ele termina o cumprimento da pena? A sociedade o repele, e essa repulsa o lança de novo nos braços do vício. Se, porém, todos desconhecessem os seus antecedentes, ele seria bem acolhido; e, se ele mesmo os esquecesse, poderia ser honesto e andar de cabeça erguida, em vez de ser obrigado a curvá-la sob o peso da vergonha do que não pode olvidar.
Isto está em perfeita concordância com a doutrina dos Espíritos, a respeito dos mundos superiores ao nosso planeta, nos quais, só reinando o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa; eis por que seus habitantes se recordam da sua existência precedente, como nós nos recordamos hoje do que ontem fizemos.
Quanto à lembrança do que fizeram em mundos inferiores, ela produz neles a impressão de um mau sonho. (1ª parte, cap. 19)
127. Qual a origem do sentimento a que chamamos consciência?
É uma recordação intuitiva do progresso feito nas precedentes existências e das resoluções tomadas pelo Espírito antes de encarnar, resoluções que ele, muitas vezes, esquece como homem.
128. Tem o homem o livre-arbítrio, ou está sujeito à fatalidade?
Se a conduta do homem fosse sujeita à fatalidade, não haveria para ele nem responsabilidade do mal, nem mérito do bem que pratica. Toda punição seria uma injustiça, toda recompensa um contra-senso, O livre-arbítrio do homem é uma conseqüência da justiça de Deus, é o atributo que a divindade imprime àquele e o eleva acima de todas as outras criaturas. É isto tão real que a estima dos homens, uns pelos outros, baseia-se na admissão desse livre-arbítrio; quem, por uma enfermidade, loucura, embriaguez ou idiotismo, perde acidentalmente essa faculdade, é lastimado ou desprezado.
O materialista que faz todas as faculdades morais e intelectuais dependerem do organismo, reduz o homem ao estado de máquina, sem livre-arbítrio e, por conseqüência, sem responsabilidade do mal e sem mérito do bem que pratica. (Revue Spirite, 1861, pág. 76; La tête de Garibaldi — Idem, 1862, pág. 97: Phrénologie spiritualiste.)
129. Será Deus o criador do mal?
Deus não criou o mal; Ele estabeleceu leis, e estas são sempre boas, porque Ele é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente, seria perfeitamente feliz; porém, os Espíritos, tendo seu livre-arbítrio, nem sempre as observam, e é dessa infração que provém o mal.
130. O homem já nasce bom ou mau?
É preciso fazermos uma distinção entre a alma e o homem. A alma é criada simples e ignorante, isto é, nem boa nem má, porém suscetível, em razão do seu livre-arbítrio, de seguir o bom ou o mau caminho, ou, por outra, de observar ou infringir as leis de Deus. O homem nasce bom ou mau, segundo seja ele a encarnação de um Espírito adiantado ou atrasado.
131. Qual a origem do bem e do mal na Terra e por que este predomina?
A imperfeição dos Espíritos que aqui se encarnam, é a origem do mal na Terra; quanto à predominância deste, provém da inferioridade do planeta, cujos habitantes são, na maioria, Espíritos inferiores ou que pouco têm progredido. Em mundos mais adiantados, onde só encarnam Espíritos depurados, o mal não existe ou está em minoria.
132. Qual a causa dos males que afligem a humanidade?
O nosso mundo pode ser considerado, ao mesmo tempo, como escola de Espíritos pouco adiantados e cárcere de Espíritos criminosos. Os males da nossa humanidade são a conseqüência da inferioridade moral da maioria dos Espíritos que a formam. Pelo contato de seus vícios, eles se infelicitam reciprocamente e punem-se uns aos outros.
133. Por que vemos tantas vezes o mau prosperar, enquanto o homem de bem vive em aflição?
Para aquele cujo pensamento não transpõe as raias da vida presente, para quem a acredita única, isto deve parecer clamorosa injustiça. Não se dá, porém, o mesmo com quem admite a pluralidade das existências e pensa na brevidade de cada uma delas, em relação à eternidade. O estudo do Espiritismo prova que a prosperidade do mau tem terríveis conseqüências em suas seguintes existências; que as aflições do homem de bem são, pelo contrário, seguidas de uma felicidade, tanto maior e duradoura, quanto mais resignadamente ele soube suportá-las; não lhe será mais que um dia mau em uma existência próspera.
134. Por que nascem alguns na indigência e outros na opulência? Por que vemos tantas pessoas nascerem cegas, surdas, mudas ou afetadas de moléstias incuráveis, enquanto outros possuem todas as vantagens físicas? Será um efeito do acaso, ou um ato da Providência?
Se fosse do acaso, a Providência não existiria. Admitida, porém, a Providência, perguntamos como se conciliam esses fatos com a sua bondade e justiça? É por falta de compreensão da causa de tais males que muitos se arrojam a acusar Deus.
Compreende-se que quem se torna miserável ou enfermo, por suas imprudências ou por excessos, seja punido por onde pecou: porém, se a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo, que fez ela para merecer tais aflições, desde o seu nascimento, ou para ficar isenta delas?
Se admitimos a justiça de Deus, não podemos deixar de admitir que esse efeito tem uma causa; e se esta causa não se encontra na vida presente, deve achar-se antes desta, porque em todas as coisas a causa deve preceder ao efeito; há, pois, necessidade de a alma já ter vivido, para que possa merecer uma expiação.
Os estudos espíritas nos mostram, de fato, que mais de um homem, nascido na miséria, foi rico e considerado em uma existência anterior, na qual fez mau uso da fortuna que Deus o encarregara de gerir; que mais de um, nascido na abjeção, foi anteriormente orgulhoso e prepotente, abusou do poder para oprimir os fracos. Esses estudos no-los fazem ver, muitas vezes, sujeitos àqueles a quem trataram com dureza, entregues aos maus-tratos e à humilhação a que submeteram os outros.
Nem sempre uma vida penosa é expiação; muitas vezes é prova escolhida pelo Espírito, que vê um meio de avançar mais rapidamente, conforme a coragem com que saiba suportá-la.
A riqueza é também uma prova, mas muito mais perigosa que a miséria, pelas tentações que dá e pelos abusos que enseja; também o exemplo dos que viveram, demonstra ser ela uma prova em que a vitória é mais difícil. A diferença das posições sociais seria a maior das injustiças — quando não seja o resultado da conduta atual — se ela não tivesse uma compensação. A convicção que dessa verdade adquirimos, pelo Espiritismo, nos dá força para suportarmos as vicissitudes da vida e aceitarmos a nossa sorte, sem invejar a dos outros.
135. Por que há homens idiotas e imbecis? (No sentido de deficiência, termo médico, não pejorativo - nota nossa)
A posição dos idiotas e dos imbecis seria a menos conciliável com a justiça de Deus, na hipótese da unicidade da existência. Por miserável que seja a condição em que o homem nasça, ele poderá sair dela por sua inteligência e trabalho; o idiota e o imbecil, porém, são votados, desde o nascimento até a morte, ao embrutecimento e ao desprezo; para eles não há compensação possível. Por que foi, então, sua alma criada idiota?
Os estudos espíritas, feitos acerca dos imbecis e idiotas, provam que suas almas são tão inteligentes como as dos outros homens; que essa enfermidade é uma expiação infligida a Espíritos que abusaram da inteligência, e sofrem cruelmente por se sentirem presos, em laços que não podem quebrar, e pelo desprezo de que se vêem objeto, quando, talvez, tenham sido tão considerados em encarnação precedente. (Revue Spirite, 1860, pág. 173; L’Esprit d’um idiot. — Idem, 1861, pág. 311: Les crétins.)
136. Qual o estado da alma durante o sono?
No sono é só o corpo que repousa, mas o Espírito não dorme. As observações práticas provam que, nessas condições, o Espírito goza de toda a liberdade e da plenitude das suas faculdades; aproveita-se do repouso do corpo, dos momentos em que este lhe dispensa a presença, para agir separadamente e ir aonde quer. Durante a vida, qualquer que seja a distância a que se transporte, o Espírito fica sempre preso ao corpo por um cordão fluídico, que serve para chamá-lo, quando a sua presença se torna necessária. Só a morte rompe esse laço.
137. Qual a causa dos sonhos?
Os sonhos são o resultado da liberdade do Espírito durante o sono; às vezes, são a recordação dos lugares e das pessoas que o Espírito viu ou visitou nesse estado. (O Livro dos Espíritos: Emancipação da alma, sono, sonhos, sonambulismo, vista dupla, letargia, etc., nºs 400 e seguintes. — O Livro dos Médiuns: Evocação das pessoas vivas nº 284. — Revue Spirite, 1860, pág. 11: L’Esprit d’um côté et Le corps de l’autre. — Idem, 1860, pág. 81: étude sur l’Esprit des persomnes vivantes.)
138. Donde vêm os pressentimentos?
São recordações vagas e intuitivas do que o Espírito aprendeu em seus momentos de liberdade e algumas vezes avisos ocultos dados por Espíritos benévolos.
139. Por que há na Terra selvagens e homens civilizados?
Sem a preexistência da alma, esta questão é insolúvel, a menos que admitamos tenha Deus criado almas selvagens e almas civilizadas, o que seria a negação da sua justiça. Além disso, a razão recusa admitir que, depois da morte, a alma do selvagem fique perpetuamente em estado de inferioridade, bem como se ache na mesma elevação que a do homem esclarecido.
Admitindo para as almas um mesmo ponto de partida — única doutrina compatível com a justiça de Deus —, a presença simultânea da selvageria e da civilização, na Terra, é um fato material que prova o progresso que uns já fizeram e que os outros têm de fazer.
A alma do selvagem atingirá, pois, com o tempo, o mesmo grau da alma esclarecida; mas, como todos os dias morrem selvagens, essa alma não pode atingir esse grau senão em encarnações sucessivas, cada vez mais aperfeiçoadas e apropriadas ao seu adiantamento, seguindo todos os graus intermediários a esses dois extremos.
140. Não será admissível, segundo pensam algumas pessoas, que a alma, não encarnando mais que uma vez, faça o seu progresso no estado de Espírito ou em outras esferas?
Esta proposição seria admissível, se todos os habitantes da Terra se achassem no mesmo nível moral e intelectual; caso em que se poderia dizer ser a Terra destinada a determinado grau; ora, quantas vezes temos diante de nós a prova do contrário!
Com efeito, não é compreensível que o selvagem não pudesse conseguir civilizar-se aqui na Terra, quando vemos almas mais adiantadas encarnadas ao lado dele; do que resulta a possibilidade da pluralidade das existências terrenas, demonstrada por exemplos que temos à vista.
Se fosse de outro modo, era preciso explicar: por que só a Terra teria o monopólio das encarnações; 2º, por que, tendo esse monopólio, nela se apresentam almas encarnadas de todos os graus.
141. Por que, no meio das sociedades civilizadas, se mostram seres de ferocidade comparável à dos mais bárbaros selvagens?
São Espíritos muito inferiores, saídos das raças bárbaras, que experimentam reencarnar em meio que não é o seu, e onde estão deslocados, como estaria um rústico colocado de repente numa cidade adiantada.
OBSERVAÇÃO — Não é possível admitir-se, sem negar a Deus os atributos de bondade e justiça, que a alma do criminoso endurecido tenha, na vida atual, o mesmo ponto de partida que a de um homem cheio de virtudes.
Se a alma não é anterior ao corpo, a do criminoso e a do homem de bem são tão novas uma como a outra; por que razão, então, uma delas é boa e a outra má?
142. Donde vem o caráter distintivo dos povos?
São Espíritos que têm mais ou menos os mesmos gostos e inclinações, que encarnam em um meio simpático e, muitas vezes, no mesmo meio em que podem satisfazer as suas inclinações.
143. Como progridem e como degeneram os povos?
Se a alma é criada juntamente com o corpo, as dos homens de hoje são tão novas, tão primitivas, como a dos homens da Idade Média, e, desde então, pergunta-se por que têm elas costumes mais brandos e inteligência mais desenvolvida?
Se na morte do corpo a alma deixa definitivamente a Terra, pergunta-se, ainda, qual seria o fruto do trabalho feito para melhoramento de um povo, se este tivesse de ser recomeçado com as almas novas que diariamente chegam?
Os Espíritos encarnam em um meio simpático e em relação com o grau do seu adiantamento.
Um chinês, por exemplo, que progredisse suficientemente e não encontrasse mais na sua raça um meio correspondente ao grau que atingiu, encarnará entre um povo mais adiantado. À medida que uma geração dá um passo para frente, atrai por simpatia Espíritos mais avançados, os quais são, talvez, os mesmos que já haviam vivido no mesmo país e que, por seu progresso, dele se tinham afastado; é assim que, passo a passo, uma nação avança. Se a maioria dos seus novos habitantes fosse de natureza inferior e os antigos emigrassem diariamente e não mais descessem a um meio inferior, o povo acabaria por degenerar, e, afinal, por extinguir-se.
OBSERVAÇÃO — Essas questões provocam outras que encontram solução no mesmo principio; por exemplo, donde vem a diversidade de raças, na Terra? — Há raças rebeldes ao progresso? — A raça negra é suscetível de subir ao nível das raças européias?* — A escravidão é útil ao progresso das raças inferiores? — Como se pode operar a transformação da Humanidade? — (O Livro dos Espíritos: Lei de progresso, nºs 776 e seguintes. — Revue Spirite, 1862, pág. 1: Doctrine des anges déchus. — Idem, 1862, pág. 97: Perfectibilité de la rase négre.)

PLURALIDADE DOS MUNDOS


 

105. Os diferentes mundos que circulam no espaço, terão habitantes como a Terra?
Todos os Espíritos o afirmam e a razão diz que assim deve ser. A Terra não ocupa no Universo nenhuma posição especial, nem por sua colocação, nem pelo seu volume, e nada justificaria o privilégio exclusivo de ser habitada. Além disso, Deus não teria criado milhares de globos, com o fim único de recrear-nos a vista, tanto mais que o maior número deles se acha fora de nosso alcance. (O Livro dos Espíritos, nº 55. — Revue Spirite, 1858, pág. 65: Pluralité des mondes, por Flammarion.)

106. Se os mundos são povoados, serão seus habitantes, em tudo, semelhantes aos da Terra? Em uma palavra, poderiam eles viver entre nós, e nós entre eles?
A forma geral poderia ser, mais ou menos, a mesma, mas o organismo deve ser adaptado ao meio em que eles têm de viver, como os peixes são feitos para viver na água e as aves no ar. Se o meio for diverso, como tudo leva a crê-lo e como parece demonstrá-lo as observações astronômicas, a organização deve ser diferente; não é, pois, provável que, em seu estado normal, eles possam mudar de mundo com os mesmos corpos. Isto é confirmado por todos os Espíritos.

107. Admitindo que esses mundos sejam povoados, estarão na mesma colocação que o nosso, sob o ponto de vista intelectual e moral?
Segundo o ensino dos Espíritos, os mundos se acham em graus de adiantamento muito diferentes; alguns estão no mesmo ponto que o nosso; outros são mais atrasados, sendo sua humanidade mais bruta, mais material e mais propensa ao mal. Pelo contrário, outros são muito mais adiantados moral, intelectual e fisicamente; neles, o mal moral é desconhecido, as artes e as ciências já atingiram um grau de perfeição que foge à nossa apreciação; a organização física, menos material, não está sujeita aos sofrimentos, moléstias e enfermidades; aí os homens vivem em paz, sem buscar o prejuízo uns dos outros, isentos dos desgostos, cuidados, aflições e necessidades que os apoquentam na Terra. Há, finalmente, outros ainda mais adiantados, onde o invólucro corporal, quase fluídico, se aproxima cada vez mais da natureza dos anjos.
Na série progressiva dos mundos, o nosso nem ocupa o primeiro nem o último lugar, mas é um dos mais materializados e atrasados. (Revue Spirite, 1858, págs. 67, 108 e 223. — Idem, 1860, págs. 318 e 320. — O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III.)


108. Qual a sede da alma?
A alma não está, como geralmente se crê, localizada num ponto particular do corpo; ela forma com o perispírito um conjunto fluídico, penetrável, assimilando-se ao corpo inteiro, com o qual ela constitui um ser complexo, do qual a morte não é, de alguma sorte, mais que um desdobramento. Podemos figuradamente supor dois corpos semelhantes na forma, um encaixado no outro,
confundidos durante a vida e separados depois da morte. Nessa ocasião um deles é destruído, ao passo que o outro subsiste.
Durante a vida a alma age mais especialmente sobre os órgãos do pensamento e do sentimento. Ela é, ao mesmo tempo, interna e externa, isto é, irradia exteriormente, podendo mesmo isolar-se do corpo, transportar-se ao longe e aí manifestar sua presença, como o provam a observação e os fenômenos sonambúlicos.
109. Será a alma criada ao mesmo tempo que o corpo, ou anteriormente a este?
Depois da questão da existência da alma, é esta uma das questões mais capitais, porque de sua solução dimanam as mais importantes conseqüências; ela é a única capaz de explicar uma multidão de problemas até hoje insolúveis, por não se ter nela acreditado.
De duas uma: ou a alma existia, ou não existia antes da formação do corpo; não pode haver meio-termo.
Com a preexistência da alma tudo se explica lógica e naturalmente; sem ela, encontram-se tropeços a cada passo, e, mesmo, certos dogmas da Igreja ficam sem justificação, o que tem conduzido muitos pensadores à incredulidade.
Os Espíritos resolveram a questão afirmativamente, e os fatos, como a lógica, não podem deixar dúvidas a esse respeito.
Admita-se, ao menos como hipótese, a preexistência da alma, e veremos aplainar-se a maioria das dificuldades.
110. Se a alma já existia, antes da sua união com o corpo tinha ela sua individualidade e consciência de si?
Sem individualidade e sem consciência de si mesma, seria como se não existisse.
111. Antes da sua união com o corpo, já tinha a alma feito algum progresso, ou estava estacionária?
O progresso anterior da alma é simultaneamente demonstrado pela observação dos fatos e pelo ensino dos Espíritos.
112. Criou Deus as almas iguais moral e intelectualmente, ou fê-las mais perfeitas e inteligentes umas que as outras?
Se Deus as houvesse feito umas mais perfeitas que as outras, não conciliaria essa preferência com a justiça. Sendo todas as criaturas obra sua, por que dispensaria ele do trabalho umas, quando o impõe a outras para alcançarem a felicidade eterna? A desigualdade das almas em sua origem seria a negação da justiça de Deus.
113. Se as almas são criadas iguais, como explicar a diversidade de aptidões e predisposições naturais que notamos entre os homens, na Terra?
Essa diversidade é a conseqüência do progresso feito pela alma, antes da sua união ao corpo. As almas mais adiantadas, em inteligência e moralidade, são as que têm vivido mais e mais progredido antes de sua encarnação.
114. Qual o estado da alma em sua origem?
As almas são criadas simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo. A princípio, encontram-se numa espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência. Pouco a pouco o livre-arbítrio se desenvolve, ao mesmo tempo que as idéias. (O Livro dos Espíritos, nºs 114 e seguintes.)
115. Fez a alma esse progresso anterior, no estado de alma propriamente dita, ou em precedente existência corporal?
Além do ensino dos Espíritos sobre esse ponto, o estudo dos diferentes graus de adiantamento do homem, na Terra, prova que o progresso anterior da alma deve fazer-se em uma série de existências corporais, mais ou menos numerosas, segundo o grau a que ele chegou; a prova disto está na observação dos fatos que diariamente estão sob os nossos olhos. (O Livro dos Espíritos, nºs 166 a 222. — Revue Spirite, abril, 1862, páginas 97 a 106.)
 

VIVA...

 
 

TEMOR DA MORTE


TEMOR DA MORTE:

Causas do temor da morte
Razão por que não a temem os espíritas

Causas do temor da morte
1 - O homem, seja qual for a escala de sua posição social, desde selvagem tem o sentimento inato do futuro; diz-lhe a intuição que a morte não é a última fase da existência e que aqueles cuja perda lamentamos não estão irremissivelmente perdidos. A crença da imortalidade é intuitiva e muito mais generalizada do que a do nada. Entretanto, a maior parte dos que nele crêem apresentam-se-nos possuídos de grande amor às coisas terrenas e temerosos da morte! Por quê?
2. - Este temor é um efeito da sabedoria da Providência e uma consequência do instinto de conservação comum a todos os viventes. Ele é necessário enquanto não se está suficientemente esclarecido sobre as condições da vida futura, como contrapeso à tendência que, sem esse freio, nos levaria a deixar prematuramente a vida e a negligenciar o trabalho terreno que deve servir ao nosso próprio adiantamento. Assim é que, nos povos primitivos, o futuro é uma vaga intuição, mais tarde tornada simples esperança e, finalmente, uma certeza apenas atenuada por secreto apego à vida corporal.
3 . - A proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; uma vez esclarecida a sua missão terrena, aguarda-lhe o fim calma, resignada e serenamente. A certeza da vida futura dá-lhe outro curso às idéias, outro fito ao trabalho; antes dela nada que se não prenda ao presente; depois dela tudo pelo futuro sem desprezo do presente, porque sabe que aquele depende da boa ou da má direção deste.
A certeza de reencontrar seus amigos depois da morte, de reatar as relações que tivera na Terra, de não perder um só fruto do seu trabalho, de engrandecer-se incessantemente em inteligência, perfeição, dá-lhe paciência para esperar e coragem para suportar as fadigas transitórias da vida terrestre. A solidariedade entre vivos e mortos faz-lhe compreender a que deve existir na Terra, onde a fraternidade e a caridade têm desde então um fim e uma razão de ser, no presente como no futuro.


4. - Para libertar-se do temor da morte é mister poder encará-la sob o seu verdadeiro ponto de vista, isto é, ter penetrado pelo pensamento no mundo espiritual, fazendo dele uma idéia tão exata quanto possível, o que denota da parte do Espírito encarnado um tal ou qual desenvolvimento e aptidão para desprender-se da matéria. No Espírito atrasado a vida material prevalece sobre a espiritual. Apegando-se às aparências, o homem não distingue a vida além do corpo, esteja embora na alma a vida real; aniquilado aquele, tudo se lhe afigura perdido, desesperador. Se, ao contrário, concentrarmos o pensamento, não no corpo, mas na alma, fonte da vida, ser real a tudo sobrevivente, lastimaremos menos a perda do corpo, antes fonte de misérias e dores. Para isso, porém, necessita o Espírito de uma força só adquirível na madureza.
O temor da morte decorre, portanto, da noção insuficiente da vida futura, embora denote também a necessidade de viver e o receio da destruição total; igualmente o estimula secreto anseio pela sobrevivência da alma, velado ainda pela incerteza. Esse temor decresce, à proporção que a certeza aumenta, e desaparece quando esta é completa.
Eis aí o lado providencial da questão. Ao homem não suficientemente esclarecido, cuja razão mal pudesse suportar a perspectiva muito positiva e sedutora de um futuro melhor, prudente seria não o deslumbrar com tal idéia, desde que por ela pudesse negligenciar o presente, necessário ao seu adiantamento material e intelectual.
5. - Este estado de coisas é entretido e prolongado por causas puramente humanas, que o progresso fará desaparecer. A primeira é a feição com que se insinua a vida futura, feição que poderia contentar as inteligências pouco desenvolvidas, mas que não conseguiria satisfazer a razão esclarecida dos pensadores refletidos. Assim, dizem estes: "Desde que nos apresentam como verdades absolutas princípios contestados pela lógica e pelos dados positivos da Ciência, é que eles não são verdades." Daí, a incredulidade de uns e a crença dúbia de um grande número.
A vida futura é-lhes uma idéia vaga, antes uma probabilidade do que certeza absoluta; acreditam, desejariam que assim fosse, mas apesar disso exclamam: "Se todavia assim não for! O presente é positivo, ocupemo-nos dele primeiro, que o futuro
por sua vez virá." E depois, acrescentam, definitivamente que é a alma? Um ponto, um átomo, uma faísca, uma chama? Como se sente, vê ou percebe? E que a alma não lhes parece uma realidade efetiva, mas uma abstração.
Os entes que lhes são caros, reduzidos ao estado de átomos no seu modo de pensar, estão perdidos, e não têm mais a seus olhos as qualidades pelas quais se lhes fizeram amados; não podem compreender o amor de uma faísca nem o que a ela possamos ter. Quanto a si mesmos, ficam mediocremente satisfeitos com a perspectiva de se transformarem em mônadas. Justifica-se assim a preferência ao positivismo da vida terrestre, que algo possui de mais substancial.
É considerável o número dos dominados por este pensamento.
6. - Outra causa de apego às coisas terrenas, mesmo nos que mais firmemente crêem na vida futura, é a impressão do ensino que relativamente a ela se lhes há dado desde a infância. Convenhamos que o quadro pela religião esboçado, sobre o assunto, é nada sedutor e ainda menos consolador.
De um lado, contorções de condenados a expiarem em torturas e chamas eternas os erros de uma vida efêmera e passageira. Os séculos sucedem-se aos séculos e não há para tais desgraçados sequer o lenitivo de uma esperança e, o que mais atroz é, não lhes aproveita o arrependimento. De outro lado, as almas combalidas e aflitas do purgatório aguardam a intercessão dos vivos que orarão ou farão orar por elas, sem nada fazerem de esforço próprio para progredirem.
Estas duas categorias compõem a maioria imensa da população de além-túmulo.
Acima delas, paira a limitada classe dos eleitos, gozando, por toda a eternidade, da beatitude contemplativa. Esta inutilidade eterna, preferível sem dúvida ao nada, não deixa de ser de uma fastidiosa monotonia. É por isso que se vê, nas figuras que retratam os bem-aventurados, figuras angélicas onde mais transparece o tédio que a verdadeira felicidade.
Este estado não satisfaz nem as aspirações nem a instintiva idéia de progresso, única que se afigura compatível com a felicidade absoluta. Custa crer que, só por haver recebido o batismo, o selvagem ignorante - de senso moral obtuso -, esteja ao mesmo nível do homem que atingiu, após longos anos de trabalho, o mais alto grau de ciência e moralidade práticas. Menos concebível ainda é que a criança falecida em tenra idade, antes de ter consciência de seus atos, goze dos mesmos privilégios somente por força de uma cerimônia na qual a sua vontade não teve parte alguma.
Estes raciocínios não deixam de preocupar os mais fervorosos crentes, por pouco que meditem.
7. - Não dependendo a felicidade futura do trabalho progressivo na Terra, a facilidade com que se acredita adquirir essa felicidade, por meio de algumas práticas exteriores, e a possibilidade até de a comprar a dinheiro, sem regeneração de caráter e costumes, dão aos gozos do mundo o melhor valor.
Mais de um crente considera, em seu foro íntimo, que assegurado o seu futuro pelo preenchimento de certas fórmulas ou por dádivas póstumas, que de nada o privam, seria supérfluo impor-se sacrifícios ou quaisquer incômodos por outrem, uma vez que se consegue a salvação trabalhando cada qual por si.
Seguramente, nem todos pensam assim, havendo mesmo muitas e honrosas exceções; mas não se poderia contestar que assim pensa o maior número, sobretudo das massas pouco esclarecidas, e que a idéia que fazem das condições de felicidade no outro mundo não entretenha o apego aos bens deste, acoroçoando o egoísmo.
8. - Acrescentemos ainda a circunstância de tudo nas usanças concorrer para lamentar a perda da vida terrestre e temer a passagem da Terra ao céu. A morte é rodeada de cerimônias lúgubres, mais próprias a infundirem terror do que a provocarem a esperança. Se descrevem a morte, é sempre com aspecto repelente e nunca como sono de transição; todos os seus emblemas lembram a destruição do corpo, mostrando-o hediondo e descarnado; nenhum simboliza a alma desembaraçando-se radiosa dos grilhões terrestres. A partida para esse mundo mais feliz só se faz acompanhar do lamento dos sobreviventes, como se imensa desgraça atingira os que partem; dizem-lhes eternos adeuses como se jamais devessem revê-los.
Lastima-se por eles a perda dos gozos mundanos, como se não fossem encontrar maiores gozos no além-túmulo. Que desgraça, dizem, morrer tão jovem, rico e feliz, tendo a perspectiva de um futuro brilhante! A idéia de um futuro melhor apenas toca de leve o pensamento, porque não tem nele raízes. Tudo concorre, assim, para inspirar o terror da morte, em vez de infundir esperança.
Sem dúvida que muito tempo será preciso para o homem se desfazer desses preconceitos, o que não quer dizer que isto não suceda, à medida que a sua fé se for firmando, a ponto de conceber uma idéia mais sensata da vida espiritual.
9. - Demais, a crença vulgar coloca as almas em regiões apenas acessíveis ao pensamento, onde se tornam de alguma sorte estranhas aos vivos; a própria Igreja põe entre umas e outras uma barreira insuperável, declarando rotas todas as relações e impossível qualquer comunicação. Se as almas estão no inferno, perdida é toda a esperança de as rever, a menos que lá se vá ter também; se estão entre os eleitos, vivem completamente absortas em contemplativa beatitude. Tudo isso interpõe entre mortos e vivos uma distância tal que faz supor eterna a separação, e é por isso que muitos preferem ter junto de si, embora sofrendo, os entes caros, antes que vê-los partir, ainda mesmo que para o céu. E a alma que estiver no céu será realmente feliz vendo, por exemplo, arder eternamente seu filho, seu pai, sua mãe ou seus amigos?
Por que os espíritas não temem a morte
10. - A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação; aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as rases da felicidade e da desgraça, assistindo, enfim, a todas as peripécias da vida de além-túmulo. Eis aí por que os espíritas encaram a morte calmamente e se revestem de serenidade nos seus últimos momentos sobre a Terra. Já não é só a esperança, mas a certeza que os conforta; sabem que a vida futura é a continuação da vida terrena em melhores condições e aguardam-na com a mesma confiança com que aguardariam o despontar do Sol após uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiança decorrem, outrossim, dos fatos testemunhados e da concordância desses fatos com a lógica, com a justiça e bondade de Deus, correspondendo às íntimas aspirações da Humanidade.
Para os espíritas, a alma não é uma abstração; ela tem um corpo etéreo que a define ao pensamento, o que muito é para fixar as idéias sobre a sua individualidade, aptidões e percepções. A lembrança dos que nos são caros repousa sobre alguma coisa de real. Não se nos apresentam mais como chamas fugitivas que nada falam ao pensamento, porém sob uma forma concreta que antes no-los mostra como seres viventes. Além disso, em vez de perdidos nas profundezas do Espaço, estão ao redor de nós; o mundo corporal e o mundo espiritual identificam-se em perpétuas relações, assistindo-se mutuamente.
Não mais permissível sendo a dúvida sobre o futuro, desaparece o temor da morte; encara-se a sua aproximação a sangue-frio, como quem aguarda a libertação pela porta da vida e não do nada.
ALLAN KARDEC, de O Céu e o Inferno, 1ª PARTE - CAPÍTULO II