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terça-feira, 1 de outubro de 2013

MILAGRES DE ORDEM CÓSMICA

 

Paulo da Silva Neto Sobrinho
A sabedoria do homem sagaz é descobrir o seu próprio caminho... (Pr 14,8).

Introdução

Os que estudam a Bíblia, sem se utilizar das conveniências dogmáticas, devem estranhar certos acontecimentos, cujos relatos fogem ao mais elementar senso de lógica. É assim que ficamos quando nos deparamos com as narrativas de dois fenômenos de ordem cosmológica, os quais se acredita serem “milagres” divinos.
Vejamos, então, duas extraordinárias ocorrências com o Sol. A primeira que o Sol parou, a segunda que a sombra voltou a um ponto anterior.

O Sol parou?

Diante dos amorreus Deus realiza um “milagre” fenomenal, fazendo com que o Sol ficasse parado, de tal sorte que a claridade do dia aumentou consideravelmente. Vejamos a narrativa:
Josué falou ao Senhor no dia em que ele entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse em presença dos israelitas: “Sol, detém-te sobre Gabaon. E tu ó lua, sobre o vale de Ajalon”. E o Sol parou e a lua não se moveu até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto acha-se escrito no Livro do Justo. O Sol parou no meio do céu, e não se apressou a pôr-se pelo espaço de quase um dia inteiro. Não houve, nem antes nem depois, um dia como aquele, em que o Senhor tenha obedecido à voz de um homem, porque o Senhor combatia por Israel.(Js 10, 12-14).
Supomos que quem fez todas as leis naturais deve ter pleno conhecimento do funcionamento delas, mas nesse caso será que isso acontece? Bom, é interessante como os dogmáticos não fazem a mínima questão de analisar os textos, apenas interpretam da maneira como aprenderam, de tal forma que erros teológicos do passado vão se perpetuando. Haverá de aparecer um “herético” para mudar esse estado de coisas. Nos candidatamos a essa função, já que não correremos mais o risco de alguém nos fazer abjurar isso publicamente sob pena de nos colocar numa fogueira ou “por piedade” nos dê a opção de tomar alguma bebida letal.
Quem redigiu o texto bíblico demonstra não possuir o mínimo de conhecimento da realidade cósmica. Observe-se que aqui fazemos questão de tirá-lo à conta de inspiração divina, pois se isso tivesse mesmo acontecido, o Sol poderia ficar parado para todo o sempre, que o dia não aumentaria sua claridade em um minuto sequer. Sabem por que? É bem simples, porque a lei natural que nos dá o ciclo dia e noite é o movimento de rotação da terra sobre o seu próprio eixo. Assim, para essa ocorrência, pouco importa a questão do Sol estar parado ou não.
E por mais que esse fato inverossímil pudesse mesmo ocorrer, ele fatalmente iria refletir em todo o globo terrestre, o que deixaria perplexos todos os povos do outro lado do hemisfério, aquele em que a noite, conseqüentemente, ficaria aumentada em sua duração. Será que um fenômeno tão extraordinário desse com repercussão mundial, não tenha sido registrado por mais ninguém, a não ser pelos hebreus?
Pasmem: “O dia em que Deus obedeceu a um homem”. Afirmamos: “Não houve, nem antes nem depois, nem nunca, um dia como aquele”.

A sombra voltou atrás?

Vejamos a outra narrativa desses fenômenos que estamos analisando:
Naquele tempo, Ezequias esteve doente, quase à morte. O profeta Isaías, filho de Amós, veio ter com ele e lhe disse: “Eis o que disse o Senhor: Põe em ordem a tua casa porque vais morrer, não te restabelecerás”. Então Ezequias voltou-se para a parede e se pôs a orar ao Senhor; “Senhor, disse ele, lembrai-vos de que tenho andado diante de vós com lealdade, de todo o coração segundo a vossa vontade”. E chorava abundantemente. Depois a palavra do Senhor foi dirigida a Isaías nestes termos: “Vai dizer a Ezequias; Eis o que diz o Senhor, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi tua oração e vi tuas lágrimas, prolongarei tua vida por quinze anos, livrar-te-ei, a ti e a esta cidade, das mãos do rei da Assíria. Protegerei esta cidade. E eis o sinal, da parte do Senhor, para convencer-te de que cumprirá a promessa: Farei a sombra recuar os dez graus que o Sol já lhe fez descer no relógio solar de Acaz”. E o sol voltou dez graus para trás. (Is 38,1-8; ver tb 2Rs 20, 1-11).
Ficamos estarrecidos diante de tanta injustiça, quantas pessoas, talvez até mais fiéis a Deus que Ezequias, não foram livradas da morte, apesar de terem implorado a Deus para que não morressem. Quantas mães virtuosas choraram a morte de seus filhos, porque Deus ficou insensível às suas orações? Será que o “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34) foi deixado de lado?
Analisando o fenômeno, podemos supor, já que é a única coisa que nos resta fazer, que acreditavam que o Sol voltando um pouco faria com que a sombra também voltasse, o que justificaria o “milagre”, cujo objetivo era um sinal para provar a Ezequias que Deus faria o que tinha prometido. Entretanto, conforme explicação anterior, isso nada adiantaria a sombra continuaria avançando sempre pra frente obedecendo a lei cósmica irrevogável.
Resta-nos, na tentativa de salvar a narrativa, supor que então, talvez a Terra é que tenha voltado, já que é o único fato que faria a sombra retroceder. Mas o que aconteceria se isso viesse ocorrer? É fácil analisar as conseqüências. Vamos dar um exemplo. Suponhamos que tenhamos em nossas mãos uma bacia cheia de água e que, inicialmente, comecemos a caminhar, para ir, gradativamente, apertando o passo até que, em determinado momento, estamos a correr. Imagine a cena. Agora, imaginemos que fizéssemos uma parada brusca e, imediatamente, voltássemos a um ponto qualquer lá atrás. O que acontecerá com a água dentro da bacia? Faça uma comparação em relação à água do mar e tire as suas conclusões sobre o que aconteceria. Por outro lado, a força de gravidade que nos mantêm presos à terra deixaria de existir. Daí perguntamos: o que aconteceria conosco, seríamos lançados para o espaço?

Conclusão

O que será que acontece com as pessoas; o que as fazem abdicar do sagrado dever de usar a inteligência que Deus deu a cada um de nós? Digo sagrado dever, pois é ela que nos difere dos animais. Por que agimos com preguiça mental de estudar, analisar e de pesquisar, simplesmente aceitando tudo quanto nos passam como verdade sem o mínimo questionamento? Até quando iremos agir dessa forma? Não acham que já é hora de acordamos e caminharmos por nossas próprias pernas, em busca dos conhecimentos necessários para a nossa libertação definitiva do jugo dessa liderança religiosa, que só se preocupa com o seu “ganha-pão” (dízimo)? Já não passou do momento de entender Jesus na recomendação: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”? Não estaria Ele falando justamente disso que ocorre conosco, quando nos submetemos ao que nos dizem os outros?
A verdade, caros leitores, só a encontraremos quando questionarmos tudo, mas absolutamente tudo. “Examinai tudo, retende o que é bom” (1Ts 5,21). Os que ficam nos proibindo de ler isso ou aquilo, podem ter certeza, não estão com a verdade, já que a proibição é fruto do medo de que alguém descubra que ele não está com a verdade, que mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente, aparecerá, para iluminar as consciências.

Referência bibliográfica:

  • Bíblia Sagrada. São Paulo; Ave Maria, 1989.

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